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CAMPO & CIDADE

Bravura de Santa Rosa

Mulher coragem, Santa Rosa. Isso mesmo Santa Rosa. Lendo a obra O Arquipélago de Érico Veríssimo me deparo com esta personagem singular.

Santa Rosa acompanhou a Coluna Prestes na grande marcha Brasil afora. De Santo Ângelo, terras gaúchas, a coluna avançou rumo ao norte. Passou pelo Paraguai e seguiu do Centro Oeste, e Brasil central, até o Nordeste. O foco, derrubar o governo federal, o presidente Whashington Luís. Não logra êxito, mas alcança repercussão nacional.

Érico Veríssimo, escritor prolífero, na trilogia O Tempo e Vento (O Continente, o Retrato e Arquipélago) capta o espirito dominante na
província de São Pedro do Rio Grande do Sul em priscas eras. A partir de Santa Fé, cidade imaginária, entrelaça a apreensão de interlocutores, especialmente do meio político. O eixo Santa Fé, Porto Alegre e Rio de Janeiro rende, e muito. Refregas. Levantes. Ambiente a projetar heróis e covardes. E bandidos. Os Cambará e os Terra – base da pirâmide -, em campos opostos, ensejam pelejas sangrentas. Capitão Rodrigo, a figura enigmática, sem dúvida. Impetuoso. Um Dom Quixote dos pagos.

A Revolução Farroupilha, lá atrás já expressava esse affaire. Esgrimam, separatistas da República de Piratini, versus federalistas. Monarquistas ou republicanos. Ou seja, Pica Paus e Maragatos, sempre às turras. Lenço vermelho, contra lenço branco. A raiz de tudo: impostos escorchantes de parte da União. E, quanto ao retorno, à contra gotas. Um misere. E, ao que parece, tudo contínua como dantes no reino de Abrantes.

A pacificação de Caxias deixou sequelas profundas, nunca devidamente cicatrizadas. E ressentimentos, que como brasas debaixo
das cinzas, vez por outra afloravam conforme sopravam os ventos.

Foi o caso da Coluna Prestes. E logo em seguida o levante de Getúlio Vargas que culminou com a deposição do então presidente eleito, o
paulista Júlio Prestes.

Refugiado na Argentina Luiz Carlos Prestes foi instado pelo grupo de Vargas a assumir o levante. Recursou, porém. Doutrinado na Escola
Marxista, mudou o entendimento sobre a realidade brasileira. Passou a defender a luta de classes. Bandeira que desaguou na Intentona
Comunista de 1935.

Mas essa é outra história. Vamos ao foco. Santa Rosa revelou-se uma mulher coragem. Casada, acompanha o marido, um dos combatentes. Auxiliava as tropas como cozinheira e na enfermaria. Engravida, mas não desiste.

Pelos relevantes serviços prestados a protegem enquanto se recupera do parto. Montam guarda. Mesmo com criança de colo – incansável -, segue pelos acompanhamentos. Conquistou a simpatia de todos. Uma espécie de mãe e irmã de todos. Pessoa abençoada.

E assim rodou o Brasil com a Coluna Prestes. Tinha lido sobre mulheres corajosas em tempo de guerra. Na Guerra do Paraguai, não era pequeno o contingente que seguia as tropas, segundo descreve Visconde de Taunay na obra: Retirada de Laguna.

Certamente, entre muitas dessas personagens instigantes, destaca-se afigura de Joana D’Arc. Heroína, mas mesmo assim condenada ao suplício pela inquisição.

Ah, e por aqui, em terras catarinenses, outra mulher destemida, Anita Garibaldi. Santa Rosa e Anita Garibaldi, não por acaso tem história muito semlhantes. Alvissaras!

Érico Veríssimo, grande mestre, grato por teres ensejado conhecer Santa Rosa, heroína da Coluna Prestes. E por que não do Brasil.

Joinville, 15 de fevereiro de 2025

Onévio Zabot

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