CAMPO & CIDADE

PARQUE NACIONAL - ARAÇATUBA/QUIRIRI

​Para compreender a iniciativa da criação do Parque Nacional Araçatuba/Quiriri, conexão Paraná/Santa Catarina, precisamos
contextualizar. Senão vejamos.

O homem - como Homo sapiens surgiu há cerca de 300 mil anos –, e sempre esteve em contato profundo com a natureza. Num primeiro
momento temendo-a, por desconhecê-la. Feras, isolamento, distâncias, luta árdua pela sobrevivência, e assim por diante. Interpretá-la através da mitologia, o caminho. Nesta jornada, já houve 29 espécies de hominídeos desde o primeiro australopiteco (J. Enriquer, Harvard).

Os gregos - encruzilhada do oriente com o ocidente, entreposto comercial da antiguidade -, internalizaram a mitologia como instrumento
de interpretação da realidade; legaram-nos, com isso, dezenas divindades. Afrodite, Eros, Ártemis, Atena, Cronos, Deméter, Dionísio,
Hades Hefesto, Hera, Hermes, Poseidon, Odisseu, Zeus e outros mais que, adotados pelos romanos, receberam outras denominações.

Misto de divindades e humanos, confundiam-se essas criaturas, ora no Olimpo, morada delas, ora entre os homens, fomentando ambições e intrigas. Politeístas, por excelência, havia deuses e deusas para todos os gostos, mesmo os mais sórdidos.

A grosso modo, com o iluminismo, gradativamente, prevalece a razão. Não bastava apenas temer a natureza, mas, sim, interpretá-la. Surge a ciência. Suplanta-se a alquimia. Suplanta-se os mitos.

E de, dominado pela natureza, o homem passa a dominá-la. Navegadores e desbravadores alcançam o confim dos mares e da terra. É
notória a viagem de Marco Polo ao extremo oriente no século XII.

Mais espaço, mais comida, mais oportunidade. Explosão populacional. Desmatamento, poluição e urbanização, a tríade maldita. Não há lugar no planeta que não sido tocado pela mão do homem. Não teme mais a natureza, pois aparentemente a subjugará. Ao contrário, muitos passaram a adorá-la. E ser silvícola, o sonho de muitos; viver na floresta.

Recrudesce essa memória afetiva. Surgem os questionamentos. Contestadores desse modelo predador. Henry Thoreau, por exemplo,
embora tenha estudado em Harvard, como ermitão e celibatário vai morar na floresta de Concord, lago Walden. Hoje entorno do parque
Yellowstone, o primeiro do mundo.

A partir desta iniciativa, a criação de parques toma corpo mundo afora. Itatiaia na Serra da Mantiqueira, 1937, o primeiro do Brasil. Ao todo
temos, hoje 75 parques nacionais. Compete ao ICMBIO administrá-los. Acredita-se que 10% da superfície do globo terrestre esteja protegia sob essa modalidade de proteção integral. Se fazem presentes em todos os
biomas brasileiros
No caso em tela – Parque Nacional Araçatuba/Quiriri em tramitação -, abrange uma área de 32,7 mil hectares em 5 municípios: Tijucas do Sul e Guaratuba no Paraná, e Campo Alegre, Garuva e Joinville em SC.

Importante frisar, nesse território temos 4 Áreas de Proteção Ambiental(APAs): 1) Guaratuba, 2) Campos do Quiriri, 3) Serra Dona
Francisca(Joinville) e 4) Quiriri(Garuva), abrangendo em torno de 20 mil hectares. Em sobreposição, portanto.

A área é protegida por robusta legislação federal, estadual e municipais, além da específica que dispõe sobre a Mata Atlântica. Há
também o Consórcio Quiriri e vários Comitês de Bacias Hidrográficas, com destaque para Complexo Hidrológico da Baía da Babitonga e Bacias Contíguas. É certo, há um sobrecarga legal. Um cipoal de dubiedades, percebe-se. Carência de recursos humanos e financeiros e, sobretudo, de monitoramento.

Fica evidente, a criação do parque propriamente dito, acrescido da mais a Zona de amortecimento, aflora controvérsias intermináveis. Nervos à flor da pele.

Como área de proteção integral, propriedades centenárias terão que ser desocupadas, recebendo os agricultores apenas pelas benfeitorias
existentes.

Na prática, sejamos realistas, complexidades a perder de vista.

Exemplo disso, o Parque Nacional de São Joaquim. Há mais de cinquenta os agricultores desalojados buscam indenizações.
Neste caso, nos parece, salvo melhor juízo, que uma unidade de proteção integral, em face das ações em curso, é uma medida extremada.
Radical e polêmica pela própria natureza.

Melhor recorrer-se à modalidade com propósito congêre: Unidades de Uso Sustentável. A escolher - nos termos da lei 9.985, art. 14 - que
disciplina a matéria: 1) Área de Proteção Ambiental(APAs), 2) Área de Relevante Interesse Ecológico, 3) Floresta Nacional, 4) Reserva
Extrativista,5) Reserva de Fauna, 6) Reserva de Desenvolvimento Sustentável, e 7) Reserva Particular do Patrimônio Natural. Portanto de
carácter conservacionista, e não preservacionista, caso em tela.

Eis um tema, cujos desdobramentos, devem ser devidamente avaliados, não apenas pelos moradores diretamente atingidos, mas, em
especial, pelas populações do entorno – na chamada - Zona de Amortecimento.

 
Joinville, 9 de dezembro de 2025

Onévio Antonio Zabot
Engenheiro Agrônomo, ESP.

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