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Jardim da natureza. Existe esse Jardim? Sim, e fica em Joinville, mais precisamente no Parque dos Hemerocallis. Ou simplesmente Parque
Hemero. Antes, porém.
O notável político catarinense Antonio Carlos Konder Reis, certa feita, discorria sobre movimentos ambientalistas. Palácio Barriga Verde, dia de jogo da Copa do Mundo, 1994. Sossego geral. Audiência, portanto, se tempo, nem hora para terminar. Prosa de amigos.
Ponderava Konder Reis: a humanidade em relação à natureza passou por três fases: 1) o homem temia a natureza por desconhece-la; 2)
inadvertidamente, em razão disso quase a destruiu; e, 3) entretanto, superado o trauma, passou a protegê-la.
Nas minhas militâncias sempre questionará o domínio de algumas famílias, verdadeiras castas na política catarinense. Konder Reis era um
deles. Ouvindo-o naquela tarde, a surpresa. Imensamente culto.
Lá estávamos com uma delegação de políticos e técnicos de Joinville para discutir a famigerado Decreto 750 do governo Collor(1991).
O decreto intempestivo, às vésperas da ECO-92, cairá como um raio sobre o setor florestal. Mais precisamente, madeireiro. O Engenheiro Agrônomo José Lutzenberger, ecologista radical, à frente do IBAMA, não poupará tinta na caneta.
Tudo proibido no âmbito do bioma Mata Atlântica. Serrarias fechadas. Zero desmatamento. Chiadeira geral. Desemprego. O caos.
Um grupo, no entanto, resiste, busca diálogo. Fundam a Associação Pró Uso Racional de Recurso Naturais (PRÓ-NATURA). Ensejam Saídas. Manejo sustentável. Arinor Vogelsanger, então vereador em Joinville, de família centenária, madeireiros tradicionais, liderava a caravana.
Konder Reis educadamente discorre com calma. Didático. Raciocínio lógico. Predicados para tal não lhe faltavam; percebia-se. Fundará no primeiro governo, idos de 1975 a Fundação de Amparo e Tecnologia ao Meio Ambiente(FATMA), em SC. E na constituinte fora sub-relator,
responsável pela sistematização do Capítulo VI – Do Meio Ambiente. Artigo 225. Pela primeira vez em nossa história a Carta Magna internalizava arcabouço legal de tal envergadura quanto ao meio ambiente. Capítulo exclusivo.
Konder Reis fez questão de enfatizar que a questão desafiadora era a explosão populacional. Mais população, mais demanda por recursos
naturais. E direitos fundamentais, como inclusão social, em evidência e necessários, apontam para um desafio ainda maior: esgotamento desses recursos. Como o planeta, percebe-se, tem limites, qual a saída?
Era taxativo quanto a isso. A história nos ensina, resta a ciência e tecnologia, como âncoras. E emendou: - Daí ao criarmos a FATMA termos
inserido o viés tecnologia. Mais tarde, inexplicavelmente, foi suprimida. Mas essa é outra história.
O que tem a ver a audiência com o Jardim do Sol. Muito, senão vejamos.
O Parque dos Hemerocallis, inciativa da família Bergmann, certamente é dessas contribuições marcantes. Espécie de divisor de águas. Diríamos decisivas. Curiosidades: ciência e tecnologia ali. Espaço amplamente ajardinado. Boas práticas de paisagismo. Jardim devidamente planejado. Angulosidades. Cores. Aromas. Ambiente aconchegante. A capela. O gramado impecável. Palmeiras. Beijos de sol. Peixes - lampejares tresmalhados. Apreciam nacos de ração. Mas cautela pessoal, pondera Dario.
E, lá no fundo, a trilha. Sim, a trilha. Mata fechada. Um bosque. E de bate-pronto na entrada, em letras garrafais, informe instigante desafia a
perspicácia dos visitantes: “Vila dos Insetos. Muitos insetos estão presentes aqui! Observe! Todos são bem-vindos!”. E mais informações:
“O que é? A vida dos insetos é conjunto de casinhas de madeira, conhecida como hotel dos insetos que recebe variadas espécies para se abrigarem como ambiente natural. Porque? Por que Besouros, joaninhas, abelhas e outros insetos trazem equilíbrio para o ecossistema de jardins e hortas. Como polinizadores e auxiliares eles vem se hospedar na Vila dos Insetos. E elenca borboletas, tesourinhas, vespas solitárias, crisopas ou bicho-da-fortuna. O arranjo: “Você vai precisar de materiais naturais como toquinhos, gravetos, palhas, pinhas, cipós, folhas verdes”. Mas o mais importante, é esse bosque no entorno. Abrigo seguro. E por aí vai.
Manhã ensolarada, 18 de julho, mais um Festival de Girassóis no parque. Evento marcante, especialmente pela presença do Coral Babado
de Saia do Rio Bonito. Rosenete e colegas do coral, se esmeraram. Foram de Bach ao Hino de Joinville. Tons e cores. Cores e tons. Emoções à flor da pele.
Impressionante o cenário, mais ainda as pessoas. Afáveis e acolhedoras. Percebia-se isso no semblante de cada um dos presentes. Ufa! como os tempos mudam, e neste caso, para melhor. As pessoas e o ambiente irmanados. Alvissaras! A natureza, ao invés de endeusa-la, apegar-se a ela, eis um novo momento. Momento de sabedoria.
Família Bergmann, Joinville e o mundo agradecem. Mais ainda a natureza. Vocês são maravilhosos.
Joinville, 19 de julho de 2025
Onévio Zabot
Engenheiro Agrônomo
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