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Coluna das Artes

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  • - Elisa Silva - especialista em História da Arte e autora dos livros " Paris sonho meu" e " Paris - Uma viagem impressionIsta"

Peregrinação à ilha de Citera - Elisa Silva

Citera é a ilha grega de Kithira no Peloponeso, lugar associado à Afrodite (deusa do amor), segundo a lenda a deusa nasceu na superfície espumante do mar e foi levada até a ilha numa concha de vieira (é por esta razão que a concha é um dos símbolos de Afrodite). Assim, o título do quadro pode ser interpretado como a Peregrinação à ilha do amor.

Poucos títulos resumem tão bem a temática de uma obra como o presente, pois a Peregrinação à ilha de Citera é a exaltação do amor e da sedução, que, aliás, é o tema central do estilo fête galante.

Fête galante é um tipo específico de pintura dentro do movimento artístico denominado Rococó, este estilo foi inaugurado por Jean-Antoine Watteau (1684-1721), caracterizando-se por um casal ou um grupo de personagens elegantes que conversam, dançam ou tocam algum instrumento musical, sempre representados ao ar livre e com cores claras e brilhantes, uma festa elegante como nome diz.

A composição é formada por dezenas de elementos: casais enamorados, peregrinos, querubins, a estátua de Afrodite - devidamente ornamentada com sua guirlanda de rosas e a aljava de flechas usadas por seu filho Eros (cúpido) - o barco que transportou os viajantes, o mar, a vegetação e um enevoado fundo.

Analisando os três casais principais podemos ver a evolução do ritual do amor e da sedução. O casal próximo a estátua de Afrodite é o mais enamorado, a fixação entre eles não é perturbada nem mesmo pelo querubim que puxa a saia da jovem, o casal subsequente revela o convencimento, pois a moça oferece as mãos ao rapaz que já está de pé, sinalizando seu consentimento e o terceiro casal está formado e pronto para embarcar na aventura chamada amor.


                                                                                         Divulgação/  Peregrinação à ilha de Citera, Jean-Antoine Watteau, 1717

Existe uma discussão entre os especialistas se a cena representa a chegada ou a partida da ilha de Citera, a maioria defende que a cena representa a partida, alegando que existem elementos que levam a essa conclusão, tais como: as cores usadas que dão a impressão do sol estar se pondo, indicando o fim da viagem; a jovem do terceiro casal que olha para trás como quem diz adeus a felicidade obtida na ilha; a formação dos viajantes em pares sugerindo o sucesso da visita a ilha do amor. Ao olhar o quadro os espectadores sentem a mesma dúvida, possivelmente essa era a intenção de Watteau, deixar subentendido para que quem aprecie o quadro decida.

O quadro foi a obra de admissão de Watteau na Real Academia de Pintura e Escultura de Paris, muito admirado na época por seus inúmeros recursos técnicos e pela inovação do estilo, tanto que a primeira vez que foi utilizado o termo fête galante foi para designar essa pintura, a obra caiu em desgraça durante a Revolução Francesa, na medida em que a temática fazia alusão ao estilo de vida indolente da aristocracia. Passado a turbulência política, a pintura voltou a sua posição natural de obra-prima e está elegantemente exposta no museu do Louvre.




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