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CAMPO & CIDADE

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  • - Onévio Zabot - Engenheiro agrônomo e servidor de carreira da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) - Membro da Academia Joinvilense de Letras

JARDINS FUNCIONAIS - Onévio Zabot

Eis um universo surpreendente: a Jardinocultura. Quem não aprecia um belo jardim? Cores, aromas e sabores, o último em ascensão no momento nos chamados Jardins funcionais.

Entre as sete maravilhas do Mundo Antigo cita-se Os Jardins Suspensos da Babilônia. O Jardim de Éden povoa o imaginário bíblico. Adão e Eva, a maçã, a víbora. Assim como a agonia de Cristo, em Getsêmane.Há por acaso como conceber um ambiente habitável, sem um jardim ou uma vegetal por menor que seja o espaço?!

Keith Thomas na obra: O Homem e o Mundo Natural, abordando o tema, expressa: "Um clérigo escocês notava que, em suas visitas aos paroquianos, jamais fora mal acolhido em uma casa que tivesse um vaso de flores à janela". E mais:" O cultivo de flores tinha um efeito civilizador. Ligava o homem ao lar e difundia o gosto pelo asseio e pela elegância".

A Jardinocultura é, mesmo tempo, uma técnica e uma arte, aparentemente simples, mas que, ao longo dos séculos, sofisticou-se: novas espécies vegetais foram domesticadas. E, neste aspecto os ingleses se destacaram, pois em razão das navegações tiveram oportunidade de entrar em contato com diferentes regiões, enriquecendo assim o acervo botânico. E como havia um ambiente acolhedor, introduziram-nas no país. Cita Keith: "Em 1500, havia talvez duzentas tipos de plantas de cultivo na Inglaterra. Todavia, em 1839, a cifra foi estimada em dezoito mil". Tulipas, jacintos, anêmonas, crocos foram introduzidas no século XVI; margaridas, tremoços, flox, videiras selvagens e ervas-lancetas- no século XVII; ervilhas-de-cheiro, dálias, crisântemos, fúcsias, no século XVIII.

Neste affaire, jardineiros tornaram-se célebres. Entre eles Lyme Hall que, a exemplo dos alfaiates, inovava, lançando novas espécies e arranjos. A profissão bastante apreciada, não só garantia excelente renda, como aproximava a classe nobre das pessoas que cuidavam dos jardins - os jardineiros. "Na Páscoa ele apareceu com um terno de botões dourados. Mais caro do que os meus dois melhores ternos, citava Richard Legh, seu patrão.

Keith informa que por volta de 1760 havia dez projetistas de jardins, 150 jardineiros de nobres, 400 de fidalgos, 100 donos de viveiros, 150 floristas, vinte botânicos e duzentos proprietários de hortas comerciais". 


Feiras e exposições movimentavam o setor, novas ferramentas e insumos eram desenvolvidos, espécies melhoradas. Como nem todos podiam conhecer as espécies, in loco, trouxeram-nas para a Inglaterra. Estufas e abrigos, com controle de temperatura e umidade foram edificados. Investimentos massivos. Com isso, o popular Jacob da Estufa- tinha cravos o ano inteiro.

"Este desejo constante de estar adiante da moda (ou pelo menos de ter um lucro, vendendo a quem desejava estar) foi um dos maiores estímulos à inovação (raridade, novidade e hibridização) na horticultura".

Quanto aos jardins, estilos, destacam-se: 1) o persa, adotado pelos gregos e depois pelos alemães, enfatizando múltiplas as funções da vegetação: beleza, produção de frutas, condimentos, medicinais e hortaliças; 2) os mouros na Espanha, ambientação desértica, vasos e cactos; 3) o francês: arranjos geométricos, caso do Jardim de Versailles; 4) o italiano: fontes e estátuas; 5) o inglês: paisagem natural; e 5) o oriental: místico, próprio para a reflexão e a contemplação.

E, então, o que seria um jardim funcional? A Revista A Natureza, edição 386, estampou na capa: Jardim para Comer. Fala-se também em Plantas Comestíveis Não Convencionais - PANCS). Um certo exagero, obviamente, mas procede.

Gradativamente, busca-se conciliar beleza e utilidade. Beleza: as flores, a cor das folhas, o porte, os arranjos estéticos; utilidade: comestíveis, aromáticas, condimentares e medicinais.

Em maior ou menor escala nos jardins residências adotam este proceder. A horta, portanto, não deixa de ser uma farmácia no quintal. Já os índios, recorriam à floresta.

Há milhares dessas espécies, muitas delas presentes nos jardins. E, ultimamente os jardins funcionais propagam-se sobremaneira.

Cita todas as espécies, impossível, dada a gama delas, mas, eis algumas: capuchinhas, feijão-borboleta, vinagreira-roxa, hemerocallis, taioba, ora-pro-nóbis, Hibiscus, gengibre espiral, onze-horas, arália-de-balfour, orégano, sálvia, alecrim, pimenta, tomilho, cebolinha, alho; salsa manjericão, coentro, funcho, açafrão, e a citronela (repelente contra mosquitos).

E a Inglaterra mais uma vez surpreende: implanta na virada do milênio, o Centro Ambiental de Cornwall - Projeto Éden - uma obra-prima de amor à natureza.

Certamente, o jardim funcional - em evidência no momento -, cabe em qualquer cantinho. Além de um bom passa tempo, tem mil e uma utilidades.

Mãos à obra, portanto.

                                                                                      Joinville, 27 de março de 2021

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