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CAMPO & CIDADE

De grameiras e relvados

  • - Onévio Zabot - Engenheiro agrônomo e servidor de carreira da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) - Membro da Academia Joinvilense de Letras

Da redação - Onévio Zabot - 4/6/2022 - 13h21min -

Dias desses, o privilégio: visitar floricultores, produtores de plantas ornamentais e gramicultores com o proeminente paisagista Raul Cânovas. Veio para proferir palestra na Feira Catarinense de Flores e PlantasOrnamentais (FECAPLANT), em Corupá.

Cânovas não apenas esbanja conhecimento técnico, mas sobretudo, sabedoria. Experiências e vivências, sobram nele. Cosmopolita, mas com os pés no chão. Literalmente no chão, ofício de quem projeta e executa ajardinamentos. Segundo informa, mais de 2500 ambientes projetados e executados no Brasil, nas Américas e em outros continentes. Conviveu com Burle Marx. E troca figurinhas com os principais paisagistas da atualidade. Em seus projetos sempre apresenta plantas novas.

Introduziu muitas delas. Este, sem dúvida, seu grande desafio. Herança de Burle Marx, reconhecidamente o maior paisagista brasileiro. Preconiza,portanto, não mais do mesmo, mas sim, mais do diferente. E com ênfase na flora nativa, tesouro a ser descoberto.
Visita marcante: Grameira Felippi, Jaraguá do Sul. Recebidos por Silvio Felippi e Dorit Hildebrandt, ambos simpáticos e acolhedores. Ambiente paradisíaco. Extenso gramado no entorno do escritório, encosta na margem esquerda do rio Itapocú. Colina esplendorosa.

Naquele momento, vem-me à mente arrozeiras. Tabuleiros e mais tabuleiros. Nivelamento milimétrico. Irrigação. O carro-chefe, as espécies: esmeralda e São Carlos, e grama preta. As demais espécies, em torno de dúzia, embora promissoras, não se firmaram no mercado. Uma pena, pois são perfeitamente adaptadas, pondera Dona Dorit.

As gramíneas, sabemos, acompanham o homem na sua trajetória terrestre. Cerca de um 1/3 da superfície da terra é coberto por savanas, pradarias, pastagens e ecossistemas com gramas. Bambus, cana-de-açúcar e pastos complementam o rol de espécies correlacionadas. No mundo são mais de 700 gêneros e cerca 12 mil espécies. No Brasil, 180 gêneros e 1500 espécies.

Além do paisagismo é largamente empregada em ambientes esportivos: campos de futebol, golfe, críquete, futebol americano, rubgy,
em hípicas, haras e jóqueis. De todos os ambientes esportivos, chama atenção os campos de golfe, seja pelo tamanho - áreas maiores -, seja pelo zelo com o gramado, impecável. Nos campos de golfe não basta apenas aparar a grama. A lâmina da roçadeira há estar tão afiada quanto uma navalha. Nenhuma folha pode ser estraçalhada. Rasgada.

Um fato marcante: o surgimento da chamada "grama artificial", lançada pela Companhia Chemstand (EEUU), depois Têxtil Monsanto, na década de 1960. Revolucionou o setor, sem, no entanto, retirar o charme dos gramados naturais. Cânovas é taxativo: o natural é insuperável. E isso vale para as flores e arranjos artificiais. Carecem de vida. Sinergia. Sinergia é própria das plantas, daí o surgimento de jardins verticais no mundo todo. Evocam os jardins suspensos da Babilônia, uma das sete maravilhas do mundo antigo.

Polêmicas à parte, na visita surpreende a tecnologia aplicada na grameira Felippi sempre com ênfase na irrigação e na adubação orgânica.Aí, certamente, reside a razão principal do vigor do gramado. Verde intenso. Os inços informam, quando surgem, são retirados manualmente. Ponta de faca. Um a um. Nada de herbicida. Isso numa área de mais de 30 hectares. Felippi chama a atenção para quem adquire grama. Informa: aqui recebem tratamento vip e, ao ir para jardins e outros ambientes, há que se esmerar no preparo do solo. O novo berço. Remover entulhos, afofar a terra e adubá-la, assim estará apta para receber as leivas. Irrigá-la sempre que necessário. Se assim não se procede, não tomando os devidos cuidados - boas práticas agrícolas -, com o tempo haverá apenas um relvado - misturas plantas invasoras - e não um gramado. Ou por outra gramados degradados, cena bastante comum.

Da visita fica a lição: onde à dedicação e zelo, e sobretudo muito amor, a natureza reconhece e sempre agradece, exibindo-se majestosa. E tanto Silvio como Dona Dorit sobram em carisma, percebia-se isso até na exuberância furtiva da grameira. Verde a colorir as vistas. Ambiente encantador.
Por fim, Cânovas - sacada de mestre, tira um coelho da manga: - "Eis uma nova espécie a nos desafiar, pondera: - é a seashore (Paspalum vaginatum), grama de restinga. Novidades por aí, portanto.
Joinville, 4 de junho de 2022

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