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Coluna das Artes

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  • - Elisa Silva - especialista em História da Arte e autora dos livros " Paris sonho meu" e " Paris - Uma viagem impressionIsta"

Tristeza poética e perfeição - Elisa Silva

Diferente das demais obras de Jean-Antoine Watteau (1684-1721), esse misterioso quadro causa discussões acirradas entre os especialistas e desperta as mais diversas sensações no espectador. Gilles ou, como é conhecido atualmente, Pierrot é possivelmente a representação de um membro da commedia dell'arte - tipo de comédia italiana baseada no improviso -, entretanto, há quem sustente que é um autorretrato, esse é só um dos mistérios que envolvem a pintura.

De grande proporção comparado aos trabalhos de Watteau, o quadro mede 1,84m de altura por 1,49m de largura e apresenta Pierrot quase centralizado, pois um olhar mais atento percebe que a figura esta delicadamente mais à direita, especula-se que a obra foi cortada para adequar-se ao local que iria recebe-la, possivelmente um café ou o palco de um teatro, mas não é possível confirmar a veracidade desta informação. A bem da verdade, pode ser que simplesmente o artista não centralizou o personagem propositalmente, é mais um dos mistérios.

De pé com sua roupa imaculadamente branca, composta de calça e blusa de mangas compridas e muito fofas, um par de sapatos também branco com laços vermelhos, meias cinzas, uma gola de babados e um chapéu engraçado, Pierrot olha tristemente para o nada, revelando a expertise do artista em representar sentimentos universais, como a tristeza e a melancolia. Aliás, a tristeza do personagem é paradoxalmente contrária ao fato dele ser membro de uma trupe que faz comédia.


                                                                                                                (Pierrot ou Gilles, 1718-1719, Museu do Louvre)

Além da referida sensibilidade, Watteau também era detalhista, detalhista ao ponto de podermos reconhecer o tecido da roupa do Pierrot: cetim. As pregas das roupas, os botões e os bolsos comprovam o apego do artista aos detalhes.

Apesar de estar em destaque, Pierrot não é o único personagem que aparece na obra, além de um fundo muito intrigante - composto de árvores, arbustos e um céu cinzento -, vemos mais cinco figuras, três pessoas a esquerda do personagem principal e um homem acompanhado de seu animal a direita, esses dois olham para fora do quadro capturando o olhar do espectador. Não existe explicação para estas figuras representadas junto ao chão, salvo que foram feitas para dar equilíbrio a composição.

Por todos esses detalhes é que a obra é tão distinta dos demais quadros de Watteau, seu tamanho, a temática, a melancolia da cena em nada lembra o pintor da fête galante.

Fête galante é um tipo específico de pintura dentro do movimento artístico denominado Rococó, este estilo foi inaugurado por Watteau, caracterizando-se por um casal ou um grupo de personagens elegantes que conversam, dançam ou tocam algum instrumento musical, sempre representados ao ar livre e com cores claras e brilhantes, uma festa elegante como nome diz.

Watteau foi mestre neste tipo alegre de pintura, porém entre os seus trabalhos o quadro que mais suscita discussões é o triste e perfeito Pierrot.





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