logo RCN
CAMPO & CIDADE

CAMPO & CIDADE

  • - Onévio Zabot - Engenheiro agrônomo e servidor de carreira da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) - Membro da Academia Joinvilense de Letras

ARROZEIRA DO ABRAMO - Onévio Zabot

Cursei agronomia em Santa Maria/RS, Universidade Federal, daí a relativa familiaridade com o cultivo de arroz. A região conhecida como Quarta Colônia tinha na orizicultura um dos pilares econômicos. E arroz irrigado, safra praticamente certa.

Antes convivera no oeste paranaense com o arroz de sequeiro, as constantes estiagens, um entrave e tanto. Nas plagas gaúchas, na época, para controlar pragas e ervas invasoras, praticava-se a rotação de cultura. Arroz e pastagem, pastagem e arroz. A soja - hoje consolidada graças ao trabalho da EMBRAPA -, apenas despontava como promissora.

O arroz, sabemos, é uma cultura milenar cuja origem se encontra da Ásia, mais precisamente na China, Índia e Vietnam. Tida como planta colonizadora, dada sua rusticidade, foi muito utilizada nas fronteiras agrícolas, especialmente no Centro Oeste. Depois dos primeiros plantios, após o desmatamento, a pastagem. Agora, soja e milho. Predominava o cultivo de sequeiro, obviamente. Durante o Projeto Rondon em Estrela do Norte, Goiás, final da década de 1970, constamos que este sistema era largamente praticado.

Tempos depois pela então ACARESC, hoje Epagri, coube-me atuar como extensionista rural em Joinville, mais precisamente na região da Vila Nova. Ao percorre-la, arrozeiras sobressaiam. Ocupavam as baixadas. Extensos tabuleiros. A Sociedade de Distribuição de Água de Joinville (SODAJ) administrava uma rede de canais de irrigação com cerca de 70km de extensão.

Em relação ao cultivo nas plagas gaúchas diferenças marcantes. Cultivo continuado, sem rotação de cultura, portanto; e semeadura com semente pré-germinada. Na época à lanço; uma técnica e uma arte, certamente. Tapumes que não eram removidos após a colheita, mas, sim fixos. E máquinas, micro tratores predominavam, praticamente flutuavam. Esteiras e armações raiadas no lugar dos pneus. Engenharia local. Criatividade de ferreiros. Depois veio a jibata, engenhoca com motor de tobata e carcaça de Jeep. Sucesso total.

Com a entrada de cultivares de arroz de porte baixo, entraram as colheitadeiras. Antes, quando se cortava com foicinha e debulha-se com a pata dos cavalos, as variedades eram de porte alto, e a produtividade baixa, na faixa de 2,5 toneladas por hectare. Para superar impasse, mais criatividade: mini-colheitaderias conhecidas como pica-paus, fruto de oficina de fundo de quintal.


Seguindo as orientações do mestre Artêmio Frazon, e sob a batuta de Volatire Mesquita Cesar, Supervisor Regional da ACARESC, primeiro conhecemos o território, a região, em seguida os atores, nos casos agricultores e, por fim, as atividades e ofícios exercidas por aquela brava gente.

Após ser apresentado às principais lideranças pelo saudoso Leopoldo Schultze, presidente da Cooparroz, partimos para as reuniões de comunidade. E o público interessado no trabalho manifestou-se.

Percebendo problemas de ordem nutricional, partimos para uma campanha de análise de solo. Surpreendente os resultados. Desequilíbrio nutricional, especialmente de potássio.

Neste caso, como o problema era comum -, unidade de observação (UO) foram instaladas em diversas comunidades. Colaboradores de ponta. Nesta época, Carmelino Dalfovo, de saudosa memória, filho do Abramo, conduzia na propriedade um ensaio de cultivares recomendados pela EMPASC, hoje Epagri. Hoje, esses ensaios são conduzidos na propriedade Raul Lafin, colaborador emérito. Ali, após a colheita pesquisadores e agricultores analisam e discutem os gargalos e a maneira de superá-los.

E não há como falar em arrozeira, isso o jornalista Herculano enfatiza, sem reporta-se à presença dos imigrantes italianos provenientes do Vale do Itajaí. Arrojados, corajosos, enfrentaram desafios de toda a ordem na época. Verdadeiros heróis anônimos. Jornada vitoriosa, hoje, a produtividade está consolidada: de oito e dez toneladas por hectare. Poderia destacar centena de nomes, mas neste momento, peço licença para evidenciar Abramo Dalfovo e o que ocorreu com sua caprichada arrozeira.

Com sua calma, sua bondade, amigo de todos, sempre foi uma referência. Porém, com a partida do mestre Abramo, parte da arrozeira passou para uma empresa de grande porte. E isso vem acontecendo sistematicamente na região, embora a mecanização do campo, inclusive com drones, facilite o árduo trabalho de cultivar a terra.

Não é de graça que um feixe de arroz e outro cana-de-açúcar emolduram o brasão da terra dos príncipes.

Como manter nosso cinturão verde produtivo?! A Holanda é um belo exemplo. Conseguiu isso após colocar a agricultura no mesmo patamar de importância que os demais segmentos. Israel também. As ferramentas: tecnologia, investimento e capacitação. E zoneamento agroalimentar. E políticas públicas de incentivo.

Eis um desafio e tanto para técnicos e políticos.

                                                                                               Joinville, 2 de abril de 2021



CALIGRAFIA DE MARINA Anterior

CALIGRAFIA DE MARINA

CINE CAFÉ Próximo

CINE CAFÉ

Deixe seu comentário