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CAMPO & CIDADE

Árvores natalinas - Onévio Zabot

  • - Onévio Zabot - Engenheiro agrônomo e servidor de carreira da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) - Membro da Academia Joinvilense de Letras

Dia desses um grupo de jovens rurais, jovens com vocação empreendedora acompanhavam explanação, aula sobre árvores nativas. Espécies com potencial madeireiro e não madeireiro. Bioma Mata Atlântica, habitat de povos indígenas outrora e, nos dias atuais, também dos mata-atlantisquenses. Novos protagonistas.

Novo cenário para o bem ou para o mal. Impressiona a enorme relação dessas espécies, e mais ainda o pouco caso, como
historicamente foram tratadas. Extrativismo deslavado. Plantio relegado. O enorme preconceito e a falta de informações sobre as mesmas saltam aos olhos.

O ambientalismo, embora a aparente bandeira de protege-las, revelou-se bissexto, movido mais das vezes por interesses nada ortodoxos. Ora, ignorar o potencial da flora nativa enquanto base para atividades econômicas e sociais; relega-la apenas ao viés
ambiental, sem dúvida, foi uma monumental falta de bom senso, de leitura de janelas de oportunidades. A mais recente delas, o ecoturismo.

No Brasil, via de regra, em termos de natureza: ou é oito ou oitenta e oito. Não há meio termo. Daí derivam algumas políticas públicas de péssima repercussão. Caso da farta legislação, e ausência de programas e projeto de incentivo devidamente alicerçadas em parâmetros técnicos.
O ciclo extrativista, a voracidade do lucro fácil sobrepôs-se ao ciclo produtivo, dedo cultivo. Este, sim ajoia da coroa. Nossas universidades que deveriam ser a âncora da ciência e da tecnologia cederam, deram voz a arroubos ideológicos, como se alguém
vivesse disso.

O tema abordado na aula em tela girava em torno de aspectos técnicos. Espécies recomendas para plantio. Utilidades. Além de aspectos madeiráveis, o aproveitamento de propriedades não madeiráveis: folhas e frutos. Essências. E do lenho, caso da
amburana, do bálsamo, cabreúva, do jequitibá rosa e do araribá que nada deixam a desejar em relação ao carvalho europeu no que tange ao envelhecimento de fermentados, especialmente cachaça.

E a relação das mesmas não é pequena: aguaí, alecrim, angico vermelho, baguaçu, bicuíba, cabreúva, canafístula, canjarana, cedro, guapuruvu, quatambu, imbuia,licurana, louro pardo, óleo, caroba, caxeta, grápia, guajuvira, ipê-roxo, louro, pau-jacaré, peroba, sobraji, araucária, tarumã, timbaúva, guaramirim, olandin, tanheiro,tucaneiro, erva-mate, palmito juçara, canelas: amarela, branca, guaica, Lageana, preta,sassafrás e outras tantas.

Neste momento, mês de dezembro, sobressai a florada do jacatirã-açú. Meia encosta. Pródiga floradas, pinta a mata de cores esbranquiçadas. E, antes disso, em meados de outubro a novembro, o guapuruvu cobriu de amarelo ouro as encostas da
serra da Mar. Espetáculo soberbo da mãe-natureza. E a elegância dos ipês, então. É a valorização paisagística sobrepondo-se.

Ressalte-se: Santa Catarina graças a ousadia dos padres-botânicos: Raulino Reitz e Roberto Klein, espécies promissoras foram prospectadas. O herbário Barbosa Rodrigues em Itajaí abriga este precioso acervo. Milhares de quilômetros percorridos.  Obras publicadas destacam esse affaire: Projeto Madeira Santa Catarina. 

Mais recentemente a FURB de Blumenau ao criar o curso de Engenharia Florestal ousa adotar uma visão holística. Proteger as espécies, os nichos ecológicos, sem negligenciar aproveitamentos. 

Adota, portanto, uma visão conservacionista, e não meramente preservacionista, como a preconizada pela Universidade Federal de Santa Catarina, cujas consequências são sobejamente conhecidas: pouca ou nenhuma motivação para o plantio e o cultivo de espécies nativas, a começar pelo palmito juçara.  
A campo visitamos o bosque implantado na Estação Experimental de Itajaí por pesquisadores da Epagri: Milton Ramos, Airton Salermo e Pedro Serpa, com o apoio dos técnicos Samuel e Alécio, entre outros. Ali, ao lado de espécies exóticas: nativas revelaram-se promissoras. Caso da canafístula e do cedro. E do pau-jacaré.  E do palmito híbrido. Sabemos que a licurana, por exemplo, equivale em incremento, ao eucalipto.
Em face da propagação de sistemas agroflorestais e silvipastoris vivemos um novo ciclo florestal. Momento de incentivo à integração de lavoura, pecuária e floresta (ILPF). Modelo EMBRAPA. Utiliza tanto espécies nativas quanto exóticas, a critério do empreendedor.
Ficou muito claro para todos os presentes. Proibir por proibir é a pior das atitudes. A mais simplória. Importa, sim plantar. Cultivar. Ou seja: urge separar-se o joio do trigo. Simplificar a legislação incentivando quem planta, certamente, é um bom começo.
E Santa Catarina, cuja vocação florestal é inegável em razão da boa distribuição de chuva, relevo acidentado e relativa fertilidade há que investir neste segmento, especialmente em ciência e tecnologia.
Captura de carbono, indústria moveleira em ascensão, pagamentos por serviços ambientais. Alvissaras! Novos tempos à vista, portanto.

Joinville, 11 de dezembro de 2021

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