Ex-presidente uruguaio revela avanço de câncer e encerra ciclo de tratamentos, destacando a gratidão pela vida e a importância do respeito na democracia

O ex-presidente do Uruguai José "Pepe" Mujica, de 89 anos, anunciou nesta quinta-feira (9) que o câncer no esôfago, diagnosticado em abril do ano passado, avançou para o fígado e que decidiu não seguir com novos tratamentos. Em uma entrevista ao jornal local Búsqueda, Mujica afirmou que está em paz com sua condição e usou o momento para se despedir de seus compatriotas.

“Estou morrendo”, declarou. “Estou condenado, irmão. É até aqui que vou. O câncer no meu esôfago está se espalhando para o meu fígado. Não consigo pará-lo com nada. Por quê? Porque sou um homem velho e tenho duas doenças crônicas. Não posso fazer nem um tratamento bioquímico, nem uma cirurgia porque meu corpo não aguenta.”

Desde o diagnóstico, Mujica enfrentou desafios significativos. Além do câncer, ele convive há mais de 20 anos com uma doença imunológica que comprometeu seus rins e dificultou o tratamento. Embora tenha passado por radioterapia e uma cirurgia em setembro para facilitar sua alimentação, a doença progrediu.

Em tom reflexivo, Mujica aproveitou a entrevista para compartilhar mensagens de gratidão e valores que marcaram sua vida. “A vida é uma bela aventura e um milagre. Estamos muito focados na riqueza e não na felicidade. Estamos focados apenas em fazer as coisas e, antes que você perceba, a vida já passou.”

Ele também ressaltou a importância da convivência democrática. “O que eu quero é me despedir dos meus compatriotas. É fácil ter respeito por aqueles que pensam como você, mas você tem que aprender que a base da democracia é o respeito por aqueles que pensam diferente.”

Legado político e pessoal

Conhecido por seu estilo simples e próximo do povo, Mujica se destacou na política internacional como presidente do Uruguai entre 2010 e 2015. Antes disso, ele foi senador e, posteriormente, deixou o cargo em 2020, citando a pandemia de Covid-19 como um dos fatores que influenciaram sua decisão. No último processo eleitoral, em 2024, Mujica participou ativamente e viu a vitória de seu partido com a eleição de Yamandú Orsi como presidente do país. “Talvez tenha sido meu último voto”, disse na ocasião.

Antes de ingressar na política institucional, Mujica foi membro do Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros, lutando contra a ditadura que governava o Uruguai. Por sua atuação, foi preso, torturado e passou quase 15 anos na prisão.

Agora, Mujica expressou seu desejo de dedicar o tempo que lhe resta à fazenda onde mora, nos arredores de Montevidéu. “Saio tranquilo e grato depois de viver uma vida muito boa, apesar de tudo.”