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CAMPO & CIDADE

Terra das Palmeiras

Enclave sui generis, Vale do Ribeira. Não apenas paulista, mas também paranaense. Mata Atlântica, serras e banhados. E mar. Complexo estuarino lagunar de Iguape, Cananéia e Paranaguá. Tombado pela UNESCO como Patrimônio Natural, Socioambiental e cultural da Humanidade(1999).

Martin Afonso de Souza aportou por ali. Ano, 1531. Baixa âncoras na Ilha do Bom Abrigo. Como símbolo da presença da expedição: crava um marco nas adjacências.

A corrida do ouro – ciclo da mineração -, provoca a arrancada inicial da região. Povoamentos. Atrai garimpeiros. E forasteiros. O polo
original: Apiaí-Iporanga e Xiririca, atual Eldorado. E o Porto de Registro do Ouro - a alfândega da época. Hoje, apenas Registro - próspero município do Vale Ribeira -, espécie de capital regional, se assim pode-se nominá-lo.

A entrada dos imigrantes japoneses, em 1913, altera o modus operandi local. E em Iguape o núcleo inicial: Colônia Katsura. A cultura
do chá e da banana - lavouras pioneiras -, prosperam. A banana ocupa a terras baixas, antes de arroz; e o chá, as colinas. E mais tarde o búfalo, bubalino adaptado a ambientes quentes e úmidos. Percebe-se isso: rebanhos refestelando-se à beira de lagoas e outros dispersos, distribuídos nas pastagens.

A presença da JICA – (Agência Internacional de Cooperação do Japão), certamente, contribuiu para prospectar novos horizontes, entre os quais a floricultura.

Grosso modo, regiões costeiras enfrentem desafios peculiares: várzeas sujeitas a constantes inundações e encostas pouco férteis. E,
sobretudo, temperaturas e precipitações pluviométricas bastante elevadas; exigindo, assim, intervenções de ordem técnica para o devido proveito. Polders são bastante comuns na região, graças aos quais, a língua salina proveniente do mar é contida, assim como operam, contribuindo para regularização do fluxo hídrico. Daí, nas terras cultivadas, sobressaírem o tradicional cultivo da banana e, mais recentemente, da pupunheira, compartilhando o espaço com pastagens e reflorestamentos.

Divagações à parte, lá estávamos para cambiar conhecimento, no caso, cultivo de pupunheira (nutrição e controle de plantas daninhas) e formas de aproveitamento de subprodutos: cascas sobrantes da agroindústria e folhas e talos nas lavouras. O evento: II Seminário sobre cultivo e processamento de pupunheira para palmito no Vale do Ribeira - iniciativa da APTA – Agência Paulista de Tecnologia e Agronegócio -, sob a batuta do Diretor da Unidade Regional, Engenheiro Agrônomo Eduardo
Fuzitani.

Percebe-se que a cadeia produtiva da pupunheira – vem prosperando nos últimos anos nas regiões litorâneas de São Paulo, Paraná
e Santa Catarina. Em Santa Catarina há também a palmeira real australiana. Excelente para palmito e derivados, e também quanto ao
aproveitamento da fibra. E, sobretudo, resistente a pragas, e doenças e fenômenos climáticos.

A Presença de técnicos de universidades públicas e privadas e de entidades como APTA (paulista), da EMBRAPA Florestas (Colombo/PR), IDR/PR, e da Epagri(SC) marcam um novo tempo: ensino, pesquisa e
extensão integrados.

E também de empresas, tanto à montante da cadeia produtiva, (adubos, mudas, máquinas e equipamentos e defensivos) - quanto à jusante - ,(processamento, mercado, designers e logística), contribuíram e contribuem decisivamente para a consolidação da cadeia produtiva. E é evidente, o consumidor final - locomotiva do processo -, dita as regras.

Sem o seu devido aval, nada prospera. E, no momento, o impulso, certamente, recai sobre o desenvolvimento de subprodutos como afirmou a pesquisadora Helm da Embrapa. E nesse quesito longa é a lista: espaguete, lasanha, arroz de pupunha e patês diversos. E farinhas. Assim como o aproveitamento das bainhas(cascas) para a alimentação animal, seja in natura ou na forma de
silagem. Compósitos e compostagem, outro nicho. E, até substrato para produção de cogumelos, comprovadamente eficiente.

Impressionou no evento o rol de inciativas e, sobretudo quanto ao nível e qualificação dos pesquisadores dos agricultores e agentes
envolvidos na cadeia produtiva. E mais do que justa a homenagem aos pioneiros, entre os quais o Engenheiro Agrônomo, doutor Álvaro Figueiredo dos Santos, fitopatologista que atuou na EMBRAPA Floresta.

Outro aspecto que chama a atenção: a organização da cadeia produtiva. A APUVALE (Associação dos Produtores de Pupunha do Vale do Ribeira), comandada por Márcio Franchetti, agrega os produtores apoiando inciativas de interesse comum.

Visitando viveiro de mudas em Eldorado, percebe-se horizontes ainda mais promissores. O técnico agrícola Mário, enfatiza: - Estamos na fase final de clonagem, material selecionado a partir de matrizes com potencial da alta produtividade.

Por fim, uma curiosidade extra agenda: o bambu. O Senhor João, um simpático nipônico, apaixonado por essa cultura, faz questão de
apresentar o restaurante cujas tesouras foram construídas com bambu. A espécie: Dendrocalamus asper, faz questão de destaca-las, pois como viveiristas cultiva outras igualmente promissoras, obviamente associadas à utilização. Bambu de Buda, por exemplo, de belo efeito ornamental.

Quanto à Asper, ressalta: é própria para armações, dada sua resistência. Considera o bambu, uma cultura estigmatizada, pois entende que dele tudo se aproveita: o broto para alimentação; as varas para “n” finalidades - construções e artesanato, as principais. Instrumentos musicais, outra linha. E até as folhas, excelente bactericida.

Como diria, o saudoso Doutor Toledo: pupunha - eis o novo ouro branco. O cultivo de palmeiras: seja a real, seja a pupunheira ou qual
espécie for; todas apresentam enormes potencialidades, muitas das quais desconhecidas.

Viva, portanto, Pindorama - terra das palmeiras - linguagem aborígine -, mais atual do que nunca. E os fatos provam e comprovam. E
contra fatos não há argumentos, aponta o bordão popular.

Joinville, 28 de outubro de 2023

Onévio Zabot
Engenheiro Agrônomo

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