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CAMPO & CIDADE

O padre dos gravatás

Quem seria o padre dos gravatás?! Simplesmente um dos maiores botânicos brasileiros de todos os tempos, pouco reconhecido como sempre em terras tupiniquins. E menos ainda em Santa Catarina sua terra natal. Natural de Antonio Carlos, antes Biguaçu. Em síntese, uma sumidade: 874 excursões botânicas; 43 anos de estradas, melhor de picadões; 917.320 quilômetros percorridos; 133 trabalhos científicos publicados. E o suprassumo: 408 novas espécies vegetais identificadas. O legado maior: Herbário Barbosa Rodrigues em Itajaí. Quem seria, portanto, este eminente cientista, e ainda por cima catarinense? Santa curiosidade. Santa não, e sim quantos negligenciares.

Falamos do padre Raulino Reitz(1919/1990), pouco reconhecido fora do mundo acadêmico. Fritz Muller, este colonizador de Blumenau, mais citado, pois trocou correspondência com nada mais, e nada menos, do que Charles Darwin, o pai da teoria da evolução.

De todas as obras publicadas pelo eminente pesquisador, duas me chamam a atenção: a primeira: Palmeiras, 1974; e a segunda: Bromeliáceas, 1983.

Em palmeiras - espécie de premonição -, antecipa a relevância da palmeira real (Archontophoenix spp.), de origem australiana, no que tange à produção de palmito. Alternativa à palmeira juçara ameaçada, então, pela sobre explotação. Anos mais tarde, na década de 1990, a palmeira real australiana antes apenas utilizada como planta ornamental passa a ser cultivada em larga escala, fato que dá sobrevida à agroindústria de conservas, tradição barriga-verde. Hoje, a pupunheira, originária da região amazônica, prepondera. Razões de ordem pratica: custo-benefício. Mas, espécies nativas como a indaiá, entre tantas outras, despontam promissoras.

Uma das grandes contribuições do padre Raulino, no entanto ocorreu em razão da presença da malária, doença que afligia os
colonizadores. Para tal, em 1949, é instalado em Brusque o Laboratório do Instituto de Marariologia, iniciativa do Ministério da Saúde ancorada por pesquisadores norte-americanos.

Padre Raulino por indicação dos americanos que o conheciam põe-se à frente da tarefa: identificar espécies de bromélias associadas à propagação do mosquito Anapholes, subgênero Kerteszia que se desenvolvia nos tanques da roseta foliar das bromélias.

Em Azambuja, Brusque, o laboratório - laboratório particular -, o suporte. Domingos Fossati da Superintendência de Campanha de Saúde Pública (SUCAM) desenhista-mor, registra em pormenores as espécies coletadas em todo o território catarinense. Tarefa auspiciosa, porém, imorredoura.

Não foram poucos os desafios, pois a malária grassava em terras catarinenses. Sobrou para as bromélias, caçadas como
bruxas. E padre Raulino destaca: “Após 22 anos de repetidos ataques de malária, encontrei a cura definitiva no Posto de Malária de Cabeçudas(Itajaí) competentemente dirigido pelo entomologista Oswaldo Leal”.

Incansável, padre Raulino coletou amostras, e identificou centenas de espécies, trabalho de reconhecimento mundial, fruto da cooperação com cientistas dos Estados Unidos e do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

Pondera: quanto ao modo de viver podemos agrupar as bromeliáceas catarinenses em três grupos: 1) terrícolas ou rupícolas; 2) epífitas; e, 3) facultativas.

Ressalte-se, a malária grassou também em Joinville. E Morro do Boa Vista - hoje coberto de fausta vegetação -, chegou a ser desmatado em priscas eras; acreditem se quiserem.

Quanto ao padre Raulino Reitz – cá entre nós -, é simplesmente considerado como o maior botânico das américas do século XX. Alguém, por acaso, sabe disso?!


Joinville, 2 de setembro de 2023.

Onévio Zabot

Engenheiro Agrônomo

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