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CAMPO & CIDADE

Castelo de Dona Ivone - Onévio Zabot

  • - Onévio Zabot - Engenheiro agrônomo e servidor de carreira da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) - Membro da Academia Joinvilense de Letras

Dia desses caminhava... domingo de manhã. Nesses momentos aprecio, sobretudo os jardins. Adoro identificar as plantas. Via de regra, os jardins guardam um pouco da expressão de cada morador; falam por eles, mas obviamente revelam também a arte e a técnica de paisagistas e jardinistas. Gramados bem cuidados, e a variação de flores de época, perenes e ornamentais. Ipês muitos ipês, mas não faltam sibipirunas, bauíneas. E as majestosas palmeiras reais australianas. Floradas abundantes, cachos carregados de frutos avermelhados para o fausto da fauna urbanizada.

E que elegância. Tão imponentes que uma espécie homenageia Alexandra, princesa da Dinamarca, daí a denominação científica: Archontophenix alexandrae. Joinville - Cidade das Flores -, singela, porém, cativante logomarca. Advém da impressão do presidente Afonso Pena que, ao circular pela vila, atento, observava os belos jardins residenciais. Não contendo a euforia, e exclama: - "Joinville é o Jardim do Brasil".

As palavras do presidente que viera inaugurar a estação ferroviária (1906), alcançam ampla repercussão nos jornais do Rio de Janeiro, à época, formadores de opinião em nível nacional.
A impressão do Presidente Afonso, repercutiu e repercute até os dias atuais. A Festa da Flores na sua 81°. edição apenas potencializa esse atributo. Ali, milhares de visitantes podem conhecer um pouco desse amanho dos joinvilenses pela natureza. E, a Associação Joinvilense de Amadores de Orquídeas (AJAO), certamente capitaneia essa exitosa trajetória.

Sobre o deslumbramento dos visitantes ocorre-me um testemunho marcante. Tempo desse em São Bernardo do Campo, São Paulo, confabulávamos com uma pessoa simples, um fiscal público. Ao saber que erámos da terra dos príncipes, vai ao fato. - Impressionante os jardins de Joinville, pondera. Confessou que, a passeio na cidade, ao percorrer as ruas, observando os belos jardins, perdeu a noção do tempo. - Era um mais bonito que o outro. Pequenos paraísos de Éden. Meu Deus, quanto capricho! Chamou sua atenção, a presença da família, nessa nobre tarefa de cuidar de plantas. E arremata, não sem um ar de tristeza: - Aqui em São Bernardo só não
constroem nas calçadas e na rua porque é proibido.

Esse hobby de caminhar me leva a mudar de roteiro constantemente. Curiosidade. Ver coisas novas. Nuances. E, em cada roteiro, uma caixinha de surpresa. Desta vez uma tenda mágica. Melhor, um castelo encantado.
É cedo, 7 horas da manhã. Uma senhora acabara de abrir o ambiente. Arranjava peças de artesanato. Fico sabendo depois: ali antes era uma garagem. Pacientemente dispunha o acervo. Conjuntos. Arranjos florais. Vasos. Correntes. Tolhas. E outras maravilhas de artista. Fez daquele cantinho rústico um castelo de esperança. Sigo adiante, mas não me contenho. Meia-volta, vou ver...

- Bom Dia, Bom Dia. Carinhosamente devolve um Bom Dia iluminado. Cheio de graça. De avental colorido. Um amor de pessoa; percebo claramente. - Sua graça?
Ivone, responde com um sorriso aberto. Prontamente me convida para entrar, para conhecer o ambiente. Informa que se prepara para o natal. Há adornos natalinos de portes e arranjos diversos, um mais bonito que o outro.

Curioso indago: - Sim, és artesã ou revendes? Ah, responde lisonjeira. Alegria contagiante. Os olhos azuis brilhavam. Desde que me conheço por gente lido com isso, mas tive que intensificar a atividade para buscar renda. Embora a idade, não consegui me aposentar ainda.

Quanto ao artesanato faz questão de enfatizar. Trabalho com recicláveis. Lixo de luxo. Cato quase tudo na rua. No começo quando recolhia esses jogados-fora, me olhavam de soslaio. Confesso: me sentia meia constrangida. Mas, depois tudo instiga, desperta a criatividade. Sensação de beleza.  Técnica, arte, manuseio. E uma sensação de paz.  Informa que já fez parte uma cooperativa de artesão, mas que agora também cuida de uma idosa, sua tia. Para isso reside ali. Percebo que o jardim é muito bem cuidado. Tudo no devido lugar. Requinte.  Ritmo e harmonia. E na frente da bucólica residência de madeira, uma senhora idosa, descansa numa cadeira entre laranjeiras e jabuticabeiras. E antúrios floridos.
Até mais dona Ivone. Volto outro dia.  Faz questão de me entregar alguns cartões, e lá está estampado: Artesanato/Plantas. Mudas de flores... as pessoas pediam, passei a produzir alguma coisa.
Que felicidade, além de uma boa caminhada, encontrar pessoas como dona Ivone. Simplicidade em pessoa, mas que talento. E, sobretudo que sentimento de aconchego. Ela ali com sua arte. E a tia, idosa, mas feliz por tê-la a seu lado. Alvissaras! Exclamo, não contendo a alegria por tão grata surpresa.

Joinville, 2 de outubro de 2021









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