logo RCN
CAMPO & CIDADE

CAMPO & CIDADE

AGROJARDINAGEM

Dia desses adentro à propriedade de Martin Dumke, margem da imperial Estrada da Serra Dona Francisca - Rodovia SC- 418. Ali o rio da Prata - águas dançantes -, atreve-se: corta perpendicularmente o sítio. Caudaloso, serpenteia ribanceiras. Jardim de Éden debruado sobre o manto verde da serra do Mar.

Naquele trecho de estrada gente famosa circulou, talvez o maior de todos, Robert Avé-Lallemant, célebre médico e paisagista alemão. Idos de 1858. Werner Schroeder, leitor inveterado, e também produtor de ornamentais nas proximidades, mas com ênfase em arranjos florais, cita detalhes dessa importante expedição. O guia foi nada menos, nada mais do que o famoso engenheiro-agrimensor Wunderwald, responsável pelo traçado original de praticamente todas as estradas do litoral norte catarinense.
Impressionado com a beleza de Joinville, Avé-Lallemant, escreve: "Está graciosa cidadezinha composta de casas ajardinadas chama-se Joinville. Com 2.500 habitantes é o ponto central de toda a colônia, a residência de nova pequena alemã que está se formando em volta da mata virgem".

Martin Dumke com imensa cortesia nos acolhe. Gestos e palavras generosas, mas contidas. Sabedoria germânica. Deixa os afazeres que não são poucos e, investido de guia, põe-se a percorrer o viveiro. Viveiro nada modesto diga-se de passagem. Abriga mais de duzentas espécies de plantas ornamentais e frutíferas.
De chofre, a coleção de palmeiras, impressiona. Muitas azuladas e exuberantes, e as paxiúbas, nada convencionais. E as frágeis chamaedorea. Adiante matrizes: enxertias ao ar livre nas galhadas. E bromélias, gramas, capim dos pampas, capim do Texas, helicônias, moreias, lírios, dracenas e alamandas. Uma penca delas. Faz questão de apresenta-las. As nativas: bolão de ouro, canela, cereja-do-Rio-Grande, ingá, olandin, ipês: amarelo, branco, da serra, rosa e roxo. E o majestoso jacatirão. As marantas -tonalidades surpreendentes -, encantam. E não podia faltar a medinila magnífica, xodó da Festa das Flores. E as frutíferas, então: bacupari, ata, cambucá, grumixama, pitanga, cereja-de-Joinville, jambo, e por aí afora. Plantas para todos os gostos, como diz meu amigo Franklin.
Viveiristas, eis cidadãos diferenciados. Diferenciados, sim, pois apegam-se às plantas, buscam propagá-las; daí a nobreza do ofício. Coletar sementes, ramos e propágulos; preservar matrizes, instinto conservacionista por excelência. Operam, portanto, como âncoras da natureza.
Todos vivenciamos distintas aptidões selvagens. Quem não aprecia uma flor, ou uma planta ornamental. Além da flor, há folhagens e as ramadas: arquitetura que molda as espécies, dando-lhe compleição e envergadura. E os aromas, então, caso dos inconfundíveis jasmins. E até as carnívoras, devoradoras de insetos.
Em Joinville, historicamente, famílias se destacaram como viveiristas. Richard Webber e Roberto Drephail, os pioneiros. E pouco depois: José Machado e Juliana Metz. Hoje, há outros mestres na praça. E grameiras de porte, como a da família Gool no Morro do Meio. Até arrozeiros bandearam-se para o setor, caso da família Possamai na região da Vila Nova.
Martin na propriedade centenária já fez um pouco de tudo. No começo, a agricultura, tradição da família. Produção de banana. Mais tarde, ajardinamentos, fato que o leva a compreender a importância das plantas ornamentais; daí a origem do empreendimento atual.
Dezena de funcionários contribuem para o êxito da empreitada. Compromissos ascendentes, portanto. Espiral de responsabilidade. - Estamos sempre aprendendo, faz questão de ressaltar. Emenda: plantas são como vestimentas, calçados e carros. A onda da moda faz o giro da canoa.
Martin, como bom empreendedor, não deixa de estar atento aos desafios da agrojardinagem. Participa ativamente da Associação dos Produtores de Plantas Ornamentais de Santa Catarina (APROESC). Aprecia sobremaneira a Feira de Plantas Ornamentais de Corupá. Faz questão, a cada dois anos, de estar lá com um stand sortido.
Aproveitamos o ensejo para convidá-lo para participar de um pinga-fogo. Ora, pinga-fogo: que é isso? Nos cursos de jardinagem oferecidos pela Epagri, no CETREVILLE, há uma sessão com floricultores e jardineiros, onde são compartilhadas vivências e experiências. E Martin Dumke revelou-se um excelente parceiro, contribuindo de forma sincera e realista. Produzir ornamentais não é para qualquer um, enfatiza. Exige muito conhecimento, paciência e dedicação. A leitura da natureza impõe desafios permanentes. Exige visão de curto, médio e longo prazo.
Por fim informa que pretende concentrar a produção, selecionar espécies, pois o leque ampliado, impõe um esforço quase sobre-humano. E, sem qualidade, nada feito.
Por fim, no galpão, a novidade: arranjos caprichados com bambuzinhos. - Saí que nem água, destaca.
Até mais amigo, até o pinga-fogo. E saímos com arranjos bambuzinhos para presentear familiares. E, acaso, há como resistir? Natureza é natureza. E nada mais encantador do que flores e plantas ornamentais. Jardim de Éden à palma da mão.
Joinville, 25 de julho de 2020
Onévio Antonio Zabot


  Onévio Antonio Zabot

 Engenheiro agrônomo e servidor de carreira da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) - Membro da Academia Joinvilense de Letras 

                               


            




COLUNA DO ROTARY Anterior

COLUNA DO ROTARY

CAMPO & CIDADE Próximo

CAMPO & CIDADE

Deixe seu comentário