logo RCN
Coluna das Artes

Virgem dos Rochedos - Elisa Silva

  • - A Virgem dos Rochedos (1483-1486)

Pintor, escultor, arquiteto, engenheiro, músico, poeta, filósofo, astrônomo, anatomista, geólogo e botânico. A curiosidade de Leonardo da Vinci parecia não ter fim e com isso ele provou que não existem limites para o conhecimento humano. Como pintor executou a obra de arte mais célebre da história da humanidade, mas não é sobre ela (La Gioconda) que este artigo se refere, este artigo é sobre o enigma que envolve duas outras pinturas deste gênio renascentista: A Virgem dos Rochedos.

Existem duas versões da Virgem dos Rochedos, uma está no Museu do Louvre na França e a outra versão está na National Gallery em Londres. O espectador menos atento pode achar que os quadros são meras cópias idênticas, porém um olhar atencioso perceberá os vários elementos que separam as obras, o mistério é: porque Leonardo realizou dois quadros aparentemente iguais?

Encomendada para decorar a igreja São Francisco Grande de Milão a primeira versão nunca foi entregue aos compradores. Com um fundo escuro e rochoso, a virgem Maria aparece ajoelhada no centro da composição, ela fraternalmente acolhe o então menino João Batista, o qual humildemente pede a benção do primo divino. Aconselhado pelo anjo que está ao seu lado, o menino Jesus simpaticamente abençoa seu primo. O menino Jesus é representado por uma criança rechonchuda sentada no chão, enquanto ao seu lado paira um anjo luxuosamente vestido que aponta para João Batista, indicando para quem a benção é oferecida.

Ao apreciarmos o quadro é possível sentir a dureza das rochas que compõem o fundo, essa rigidez contrasta com a leveza dos personagens, que surgem fluídos pela luz e pela sombra do sfumato, técnica inventada pelo próprio Leonardo da Vinci.


Virgem das Rochas (1508)

A versão que foi entregue aos compradores é bem mais clara, as rochas que dão nome aos quadros ainda aparecem rigidamente, mas é possível ver uma luminosidade e um azul que aumenta a profundidade do quadro. Os personagens aparecem na mesma posição, porém elementos essenciais ao catolicismo são inseridos, a auréola sobre as cabeças de São João Batista, da virgem Maria e do menino Jesus. O anjo não está tão imponente quanto na primeira versão e a virgem Maria aparece com seu característico manto azul.

Especula-se que a versão que está exposta no Louvre é a primeira e que ela foi rejeitada, por ser considerada vulgar, pois Leonardo não teria inserido os tradicionais elementos divinos, razão pela qual o pintor foi obrigado a fazer uma segunda versão mais "divina".

De fato, ao olhar a primeira versão é possível perceber que o artista estava mais preocupado em explorar a técnica inventada - sfumato - do que representar divindades. Além disso, o primeiro quadro é uma aula de profundidade e harmonia da composição. Nada, absolutamente nada, neste quadro parece estar em desarmonia ou fora do lugar, ao que tudo indica todos os elementos foram milimetricamente calculados, característica comum nas obras de Leonardo.

Pela falta de registro, é impossível saber com exatidão o que ocorreu para que duas versões do mesmo tema fossem executadas, pode ser que realmente os compradores rejeitaram a primeira versão por ser técnica demais e divina de menos. Contudo, pode ser mais um dos enigmas que Leonardo tanto gostava, ele pode simplesmente ter guardado consigo a primeira versão só para exibir o primor técnico da obra. Enfim, é mais um dos mistérios que Leonardo da Vinci deixou para instigar os seus adoradores.


Elisa Silva - especialista em História da Arte e autora dos livros " Paris sonho meu" e " Paris - Uma viagem impressionIsta"














Vinicius Lummertz Anterior

Vinicius Lummertz

Ivan Tauffer Próximo

Ivan Tauffer

Deixe seu comentário