As tarde de domingo estavam invariavelmente reservadas para uma boa e divertida pelada. Nem sempre, mesmo com sol sobrando, havia uma quantidade de raios luminosos suficientes para a bola rolar. O jeito era fazer alguma coisa relacionada com este ambiente. Ouvir as transmissões dos jogos também fazem parte desta alternativa.

Fazer um "plantão esportivo" era ainda melhor. Isso ficava ainda mais divertido quando havia uma chance de subir numa árvore para não deixar escapar nenhum ruído que tentávamos captar nos nossos rádios de pilha. As ondas curtas das emissoras do Rio e São Paulo estavam na nossa preferência. A minha cabine ficava numa ampla seringueira, tentando captar os jogos do certame paulista. Numa goiabeira ao lado estava Jonas, o amigo inseparável, trazendo par e passo dos jogos dos tempos cariocas.

A cada gol, a intervenção passava a ser solene, igual a um locutor em seu estúdio. Foram tardes agradáveis, divertidas e sempre com os resultados definidos. Mas foi na noite de 1º de agosto de 1974, logo depois de consumada a conquista do certame brasileiro pelo Vasco ao vencer o Cruzeiro por 2 a 1, mesmo com toda escuridão, subi lá goiabeira para acender uma vela em memória do amigo Jonas, que faleceu sem ver os resultados finais daquele campeonato.

RESULTADOS DE TODOS OS CANTOS E CAMPOS

Os domingos da minha infância tinha três partes. Cada uma com sua importância e significado. As manhãs eram para largar a preguiça até chegar na hora do almoço e abocanhar um delicioso frango assado no forno, com uma receita insuperável de minha mãe Veronica. A repetição do paladar representava que o maxilar sempre estaria se movimentando por uma boa causa. A lombeira depois de tantas gostosuras merecia um cochilo para de tarde estar pronto e alerta para os passeios até a casa da tia Belica, ou alguma outra novidade.

Depois das seis badaladas da tarde estava anunciada a chegada do breu da noite. Hora de conferir se a lição estava feita e o que poderia vir para uma semana que estava começando. Havia um momento todo especial quando meu pai Ango ligava o rádio de válvulas para sintonizar alguma rádio de fora (Rio ou São Paulo) e aguardar pela Resenha Esportiva. Isso representava uma chance de ouvir os resultados dos campeonatos de todos os estados.

Nada em comparação com os aplicativos de celular que trazem os gols em momento real. A Resenha Esportiva era diferente por ser uma passada única no mapa esportivo nacional, num tempo que o rádio era uma única forma de interatividade com o mundo exterior. O efeito também poderia ser inverso, como aconteceu com minha avó ao ouvir em São Paulo estes mesmos resultados. Quase ao final de uma dessas resenhas, dona Cantalícia ouve o nome do time do bairro de sua cidade de origem levando uma sapecada em um amistoso fora de Joinville: "Glória perde e de goleada", anunciou o locutor. A ouvinte tenta interagir, mas nessa época o rádio só "falava" e não "ouvia" quem estava do outro lado, quando vovó lasca sem pestanejar: "Quem manda, deviam é ter ficado em casa", foi sua exclamação, que fiquei sabendo através dos relatos de minha mãe Veronica.

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Esta é uma das crônicas que fazem parte de uma futura publicação, que terá o nome de "Glória´s do Menino Jornalista", uma coletânea de textos em que relato fatos marcantes de minha vida e a trajetória no jornalismo joinvilense e catarinense. Apoiadores e patrocinadores são bem vindos. Aguardo seu contato para prestar mais detalhes.

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