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CAMPO & CIDADE

PARAÍSO DO VALE

  • - Onévio Zabot - Engenheiro agrônomo e servidor de carreira da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) - Membro da Academia Joinvilense de Letras

Onévio Zabot

No momento em que, a nível global, se discute a implementação da sustentabilidade, obviamente medidas devem ser adotadas para cumprir tal propósito. Ferramentas e ideários não faltam. Na prática, no entanto, o problema: nem todos os envolvidos nessa missão praticam o jogo do ganha-ganha. E aí reside o drama. Se alguém perde, nunca chegaremos a um termo compensador. E com isso o planeta como um todo soçobra. E as consequências sempre recaem sobre um determinado local, uma comunidade. Daí a máxima de Gro Broundtland (Rio-92): "Pensar globalmente, agir localmente".

Dentro desta perspectiva, certamente a conservação do solo e da água sobressaem. Há uma narrativa sobre um grande incêndio numa floresta. Animais corriam, outros amoitavam-se, apenas o pequeno beija-flor obstinadamente insistia em ir até o riacho, encher o bico d'água e, ato contínuo, espargir sobre as chamas. Mesmo ridicularizado, insiste. Cumpria sua parte, o pequeno colibri. Sobre o momento ambiental, se cada um cumprir a sua parte, certamente, reverteremos o ciclo perverso em curso.

Neste sentido, dia desses incursionávamos por Luiz Alves visitando propriedade rurais, mais precisamente áreas cultivadas com banana. Por lá bananais estendem-se a perder de vista. Bruno Salvador, jovem agrônomo da Epagri, nos recepciona e conduz no roteiro previamente organizado, nos faz companhia da Vanessa Corrêa Pacheco, técnica da Associação dos Bananicultores.

Rafael e Moacir, bananicultores de Araquari buscam informações sobre como proteger o solo em bananais, tecnologia aplicada na região com êxito, com destaque para Corupá e Luiz Alves. Os agrônomos da Epagri Evandro Gonçalves de Araquari, e Marcelino Hurmus, Garuva, completam o grupo.

Longuino Rech de saudosa memória, embora radicado em Joinville, não escondia sua raiz luizalvense. Enfatiza: - Sou da terra da Capital Nacional da Cachaça. De família tradicional de alambiqueiros, vez por outra se abastecia por lá. Daqueles tempos de criança e juventude guardou na memória um bocado de bem-querer. Dos modos da boa gente daquela terra. Daí sua música preferida - Meu Sítio, Meu Paraíso. Espirituoso evocava os namoros que, via de regra, redundavam em casamento. Quando dois jovens se enamoravam, todos observavam, principalmente nos domingos de manhã após a missa. Ao observá-los, saiam, com essa: - Aí vai dar bom casamento. Terra para ambos não falta. 


O município passou por várias etapas no tange às atividades rurais. Além da cana-de-açúcar, base da economia local por longas décadas, teve a fase do tabaco e da pecuária de corte e leite. Com o fechamento da usina de açúcar a USATI, migram para a bananicultura, hortaliças e palmáceas.

Ousados, adotaram tecnologias de ponta, tendo como protagonista e incentivador o Agrônomo José Salvador da Epagri. A pista de aviação agrícola no topo de um elevado comprova o fato. Aeronaves decolam ao amanhecer. Vesúvio de aviões cobrem os céus.

Elucubrações à parte, vamos à visita. O objetivo, percorrer propriedades que praticam a cobertura verde sob as bananeiras. A tecnologia foi desenvolvida pelo pesquisador Faustino da Epagri, estação experimental de Itajaí. Várias espécies de gramíneas e leguminosas, e até uma crucífera, o nabo forrageiro, foram testadas. Os resultados revelaram-se promissores: formação de palhada, controle de ervas invasoras, redução da aplicação de defensivos agrícolas, e controle da erosão, entre outros benefícios. Plantas para cobertura no período de inverno e para o verão, e algumas o ano todo: caso da soja perene. E também descompactadora do solo: caso do nabo forrageiro. Surpreendente, para o controle de nematoides utilizam a crotolária. Daí o pousio.

Raphael Pacheco acompanhado da família acaba de adotar a tecnologia. Onde havia plantio de palmáceas, vai produzir banana orgânica. E o primeiro passo já foi dado: aveia, nabo e triticale, em plantio solteiro ou consorciado, recém germinados. Uma unidade de produção de biofertilizante complementa o processo. Rafael é taxativo: - "Vou cuidar primeiro solo, da saudabilidade do mesmo. A planta reflete isso. Solo bem cuidado, plantas sadias e vigorosas".

Fica evidente a criatividade dos bananicultores. Atentos ajustam os ponteiros para ingressar na Era da sustentabilidade.

Por fim, o bom humor de Valdir Slomecki (Vila Nova); em conversa descontraída, chama a atenção do grupo. Evoca o tempo em que sequer havia bancária em Luiz Alves. Alguns comerciantes operavam como agentes financeiros. Todo o dinheiro da sua família ficava sobre guarda do senhor Kraisch. Homem de extrema confiança. Palavra valia ouro, preponderava a lei do fio de bigode. Acumularam quantia suficiente para ampliar, a hoje, produtiva propriedade. Faz questão de apresentar uma área de lavoura irrigada. Menina dos olhos. Água não falta por ali. Córregos afloram; ouve-se o constante murmurejar. E os resultados então - simplesmente espetaculares. Em termos de produtividade, mais de 30%. E safra regular. Frutas graúdas e uniformes.

Um fato pitoresco, entretanto, não faltou. Na propriedade dos Corrêa, um jacaré deu as caras. Surgiu não sabem como. Um mistério. Acreditam, dever-se aos Tapicurus da Cara Pelada (Socó do brejo), aves bicudas que pernoitam por lá. O Jacaré já crescido, atende somente os chamados de seu Corrêa. Basta bradar por ele que se apresenta. A recompensa: uma polpuda tilápia. Grandalhão, naquele momento tomava banho de sol acoitado numa laje.

Cumprida a missão, percebe-se claramente que com medidas simples, e dedicação, podemos garantir alimento de qualidade para as próximas gerações.

Da visita, fica a impressão de que realmente, Luiz Alves, conhecida como - O Paraíso Verde do Vale -, reflete este cenário na boa gente. Residências confortáveis e ajardinadas. Gente trabalhadora e, sobretudo acolhedora.

                                                           Joinville, 4 de junho de 2021


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