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CAMPO & CIDADE

Paisagismo pós-pandemia - Onévio Zabot

  • - Onévio Zabot - Engenheiro agrônomo e servidor de carreira da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) - Membro da Academia Joinvilense de Letras

Raul Cânovas, certamente, uma referência internacional quando o tema é paisagismo. Simples e direto. De uma sabedoria à toda prova. Circula pelas escolas paisagísticas com desenvoltura. Árabe, oriental, francesa, inglesa ou persa.  E a escola brasileira, instiga. Existe uma escola brasileira de paisagismo? Boa pergunta. Destaca um ícone dessa plêiade de notáveis. Roberto Burle Max. O encanta o talento desse notável paisagista. E não menos notável artista plástico e pintor. Para ele, enquanto paisagista e divulgador da jardinagem, um dos maiores de todos os tempos.

Como cabo de ler o livro: A Invenção da Natureza de Andrea Wolf tendo como pano de fundo a vida e as descobertas de Alexander Vom Humboldt, as palavras de Cânovas tomam um significado especial.  Humboldt, inspirado em Goethe, mudou nosso modo de pensar a respeito da natureza. Sua incursão pela américa tropical e pelos Andes revelou maravilhas até então desconhecidas no velho continente. Coletou mais de duas mil espécies de vegetais até então desconhecidos. No topo dos Andes, ao percorrê-lo, deparou-se com cenário único e majestoso. Expõe todo este estudo em publicações que repercutiram na Europa, especialmente no meio acadêmico. Mas não se descuida com a linguagem popular. Pública para o grande público. Um sucesso.

E aí esta uma das marcas de Burle Max, a popularização do paisagismo. Acolhia em seu sítio no Rio de Janeiro quem quer que fosse, não importava a classe social... sempre da mesma maneira: intensa interação e hospitalidade. Contribuiu, assim, para a popularização do paisagismo tropical. Espécies nativas, a sua paixão.
Cânovas na sua fala, começa de forma leve, envolvente. A marca registrada: o chapéu de palha que acompanha não importa aonde. Destaca a importância da jardinagem no bem estar das pessoas. Desestressante, destaca. E o conjunto da obra quando devidamente articulada e harmonizada na melhoria de qualidade de vida dos conglomerados urbanos.

Aponta que certa feita convidado para projetar um jardim na cidade de São Paulo, instado por Civita, editor renomado não vacila.
- Sobre isso precisamos ouvir a população local. O que pensam: O que desejam. Mais de três mil pessoas entre passantes e moradores foram ouvidas. Sugestões preciosas foram colhidas. Cânovas é persistente: jardins devem ser projetados para a posteridade.
Distingue modismo de tendência, está é mais perene, aquele esgota-se rapidamente. Discorre sobre espécies. Aponta que a laranja na China, país de origem, pode produzir por cerca de 100 anos. No Brasil, não adaptada, mal passa dos 10 anos.
E. sobretudo enaltece a variedade palmeiras no Brasil, assim como na Ásia. Em termos de forrações, aponta o México. Imbatível. E gramíneas, o pampa.

Atem-se longamente sobre telhados verdes, a nova onda. Apresenta projetos ousados, caso do Hospital Sírio-Libanês em São Paulo. Aliás, sobre hospitais, destaca: o ajardinamento do entorno, está comprovado, reduz em até 30% o uso de medicamentos, assim como o tempo das internações.
Tiro o chapéu para o paisagista. Realmente é inconcebível um complexo hospitalar sem um amplo jardim florido e repleto de árvores de boa sombra. Enfim que preencha os cinco sentidos: cores, perfumes, tato, sons e paladar.
A vocação do espaço, eis o eixo norteador a despertar a criatividade do paisagista e a imaginação de quem aprecia paisagens marcantes, aponta Cânovas.
Por fim, para abrilhantar a palestra, a visita à Agrícola da Ilha. Ali Dario e a família são um retrato vivo de como projetar e cuidar de um jardim. Traços do paisagista Jordi Castan emprestam charme ao ambiente. Segundo Cânovas todo o paisagista é um designer. Designer de exterior.

Quando ando pelas ruas de Joinville e outras cidades, os jardins chamam minha atenção. Aprecio-os sobremaneira, pois revelam o que há de melhor de sua gente. E cada um deles revela as digitais não apenas do proprietário, mas do paisagista, e, sobretudo dos jardineiros, esses artistas da natureza.
Por fim Cânovas provoca no bom sentido. A pandemia provocou uma mudança profunda nas pessoas. Voltaram-se para a natureza, para o belo. E isso é extremamente salutar. Revela um novo tempo. Tempo de comunhão com a natureza, o mesmo que preconizava Goethe e Humboldt, este nas andanças por várzeas e montanhas da então inóspita e desconhecida América.

Cânovas, que bom ouvi-lo! Lições de sabedoria elevam a autoestima, e quando enlaçam a natureza, muito mais.
Parabéns - À Casa do Capitão, Gastronomia e Eventos -, comandando pelo casal José Lopes e Vanda Moura, apoiados pelo vereador Henrique Deckmann, pela iniciativa. Cultura faz toda a diferença.
                                                                                             Joinville, 2 de fevereiro de 2022





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