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CAMPO & CIDADE

Lúpulo - Por que não ?! Onévio Zabot

  • - Onévio Zabot - Engenheiro agrônomo e servidor de carreira da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) - Membro da Academia Joinvilense de Letras

A missão técnica, visita a Lages, planalto serrano. Mês de julho, 15 e 16 - 2021. O foco: cultivo de lúpulo. Sim, lúpulo cervejeiro. Os mosqueteiros: Elder Mariano e Roberto Hoppe da Secretaria de Agricultura de Joinville, Luiz Fernando Sedrez, empreendedor e, pela Epagri, a pedido do Gestor Regional Hector Haverroth, este moicano cansado de guerra.

Cá com meus botões corujava: mais uma peleia para Don Quixote e seu fiel escudeiro Sancho Panza. Ou por outra: não erámos apenas três mosqueteiros, mas sim, quatro sonhadores. A montaria não era o fugaz Rocinante, mas sim, um gol 1.6, uma máquina na estrada.

O cultivo lúpulo, uma grata surpresa. Eis que subitamente em face do avanço das cervejeiras artesanais aflorou, e com que ímpeto. Ímpeto selvagem diria meu amigo Franklin.

Lavouras pipocando pra todo lado. Tudo o que é novo, via de regra, atraí. Seduz. E com o lúpulo não é diferente. Cá por Joinville, José Thales Puccini e Luiz Fernando Sedrez, ousados, lançaram-se na atividade. Luiz em 2017, na serra Dona Francisca, e Puccini um pouco depois, na região mais baixa, estrada Mildau.

Lavouras implantadas, conduzi-las um senhor desafio. Como técnico juntamente com a colega Dione Benevenutti, alertamos Puccini: - Nesse clima subtropical, cautela, pois podes dar com os burros n'água. Italianice na veia, retruca. - Vai melhor do que nos climas temperados. Calor é vida, energia pulsante, pondera.

Associo ao caso da soja, também foi assim; inicialmente restrita a ambientes de dias curtos, depois, com a pesquisa tudo mudou, disseminando-se pelo Brasil todo. Em princípio, portanto, tudo é possível para a ousadia humana. Haja criatividade para tanto. Também foi assim com o trigo até o agrônomo Norman Borlaug através de seleção de cultivares, cruzamentos e melhorias contínuas, leva-lo aos trópicos. Tanto foi exitosa a jornada que recebeu como recompensa o prêmio Nobel da Paz. Com a medida, milhares de pessoas libertaram-se da fome. O milho híbrido, outro plus fantástico. Países como México subitamente encheram os celeiros com o precioso grão.

Em relação ao lúpulo (Humulus lupulus), no entanto, outro é o cenário. Inicialmente utilizado como planta medicinal, aromática e alimentar, pegou carona na indústria cervejeira. 

Daí a notoriedade.

O cultivo para fins de produção de cerveja teve como epicentro a Europa Oriental, onde é cultivada desde o século XVIII (Boêmia, Eslovênia e Bavária). Dali espalhou-se para outras regiões. No Brasil chegou com os imigrantes pomeranos, meados no século XIX.

 Deve-se ao melhoramento genético a introdução de novos cultivares - cerca de 260 -, cada qual com digitais próprias impulsionadas pelo tripé: aroma, sabor e amargor. A lupulina, extraída da flor (cone), a joia da coroa.

Elucubrações à parte, vamos à missão. Em princípio visava intercâmbio com a AMBEV, poderosa cervejeira do planalto catarinense, e, na UDESC - Universidade de Desenvolvimento de Santa Catarina, e com técnicos da Epagri atuantes em Lages.

NA AMBEV fomos recebidos pelo Felipe Sommer, gestor do projeto e pela Engenheira Agrônoma Mariana Fagherazzi, doutora em lúpulo. Participaram também da reunião Beretta, Diretor da Secretaria da Agricultura do município e Pedro Donizete, extensionista local da Epagri. E, Vini Sommer, acadêmico de agronomia procedente de Jaraguá do Sul.


Felipe informa que todo o lúpulo utilizado pela cervejaria é importado da Europa e da Argentina, região da Patagônia. Confirma as ponderações de Luiz Fernando, de Elder e do Roberto: as cervejas artesanais, sua recente expansão aqueceu o mercado do lúpulo sobremaneira.

Segundo o Ministério da Agricultura o setor cresceu 91% no período de 2014 a 2018). De 356 para 679 estabelecimentos registrados. E em razão dessa demanda o cultivo ganhou força, inicialmente na serra da Mantiqueira, Petrópolis e depois Brasil afora.

Sabemos que a expansão desordenada de qualquer cultura carrega um risco. E, Santa Catarina, para equacionar a questão a UDESC e Epagri foram contatadas, iniciando-se assim um trabalho de pesquisa e extensão. E de capacitação.

E essa era nossa missão: como inserir a região de Joinville no projeto estadual em andamento. A troca de informações permitiu situamo-nos em relação ao momento, e aos desafios da cadeia produtiva. Instalações na AMBEV com máquinas e equipamentos, laboratório para a análise, fazenda experimental e viveiro de mudas alavancam o processo. E as parcerias potencializam a iniciativa.

Dez Unidades de Referência Técnica (URT) estão em fase de implantação. Ressalte-se: trabalho coordenado pela APROLUPULO - organização do setor produtivo, apoiado pelas cervejarias artesanais. Ingredientes alavancadores, portanto.

Vistamos a primeira unidade em implantação na propriedade da família Carraro. Alysson, jovem empreendedor nos recepciona. A estrutura está pronta - inclusive com cobertura do solo(nabo forrageiro e aveia) -, aguarda apenas a entrega das mudas em meados de agosto.

NA UDESC, uma grata surpresa. Capitaneados pelo professor Leo Ruffato percebemos uma ação de largo folego. A equipe surpreende pela dinâmica, centralidade e entusiasmo com o projeto. Professora Francine, Doutora; Ana Arruda, doutoranda; Jessiane Jastrombek, mestranda; e Yhan Pierezzan, mestrando. Apoiados no tripé: ensino, pesquisa e extensão, e em parceria com a iniciativa privada, ancoram sustentação científica ao projeto.

Na outra ponta da Epagri/Ciram desenvolve os estudos de Zoneamento Agroclimático, ou seja, o risco climático da cultura. Uma vez zoneada - definidos os territórios produtivos -, pode ser incentivada através do crédito rural.

Satisfeitos e até surpreendidos com o que observamos; não resta dúvida, todos concordam, o projeto está no rumo certo. Nessa hora nos vem à mente o corolário: 1) visão sem ação, sonho; 2) ação sem visão, aventura; e 3) visão com ação transforma o mundo."

Da missão técnica, analisados os pros e os contras, ficou claro que temos que ampliar as parcerias estratégicas: viveiristas, técnicos e lupocultores. E cervejarias. Todos ressaltaram o fundamental: o mercado promissor, a demanda por lúpulo peletizado. E, cá, entre nós, mercado é tudo. Poderosa alavanca potencializadora.

Sem dúvida, a missão foi exitosa. Mãos à obra portanto: lupocultores e cervejeiros, pois bons apreciadores de cervejas diferenciadas, certamente, não faltam. Alvíssaras!

Joinville, 17 de julho de 2021.

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