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CAMPO & CIDADE

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  • - Onévio Zabot - Engenheiro agrônomo e servidor de carreira da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) - Membro da Academia Joinvilense de Letras

OUSADIA DE ELIAS - MARICULTOR - Onévio Zabot

Dia desses marcamos presença na Vila da Glória, lugarejo bucólico de São Francisco do Sul, Baia da Babitonga. Razão da visita: presentear para os netos. Dia da criança. Rodada de frutos do mar no famoso restaurante Zinho Batista. Família tradicional da Vila. A Vila da Glória antes de tudo destaca-se por uma bela história. Alexandre, professor da UFSC na boleia da viatura pergunta: 

- Quem foram os franceses que deram as caras por aqui. - Acaso nunca ouviste falar da saga do falanstério do Say? Falanstério do Say. Isso mesmo. O nosso Brasil, pátria-mundo, laboratório de muitos encontros e desencontros. Um deles o sonho socialista. Utopia que surgiu na Europa no bojo da revolução industrial. Na Inglaterra Roberto Owen, na França, Saint-Simon, Charles Fourier, entre outros. Em terras catarinenses, mais precisamente em São Francisco do Sul, idos de 1841, na bucólica Vila da Glória, ocorreu o primeiro assentamento do gênero, com o aval de Dom Pedro II e do então governador de Santa Catarina, Antero de Brito. O coronel Camacho, francisquense apoia a iniciativa, acolhendo a primeira leva de  migrantes.

À  frente do grupo, além de Michel Derrion, o médico homeopata Benoit Jules Mure que se celebrizou ao fundar a primeira escola de homeopatia do Brasil (Instituto do Sahy) em plena selva. Mais tarde a transfere para o Rio de Janeiro. No falanstério, enorme casarão, tudo era compartilhado. Entre os imigrantes havia profissionais qualificados: engenheiros, oleiros, carpinteiros, padeiros, pedreiros e tecelões. Mas pouco agricultores, aí talvez resida o calcanhar de Aquiles do projeto. Embora a exuberância da natureza: a baia da Babitonga - rico manancial pesqueiro, e a mata pródiga em frutas silvestres, o clima quente eúmido, as chuvas abundantes e frequentes -, desafiam os colonizadores. Um conflito entre Derrion e Benoit Mure, pioneiros, leva o primeiro a fundar mais ao norte - hoje, Garuva -, a Colônia Industrial do Palmital. Basicamente processavam palmito e beneficiavam madeira. O transporte marítimo - rio Palmital -, facilitava o escoamento da produção. O uso comum das terras cedidas pelo império, diante do fracasso do projeto, resultou em intermináveis conflitos de terras na região, haja vista a presença de posseiros e invasores. Somente em 2003 com a intervenção da Secretaria de Estado da Agricultura foram iniciadas as demarcações definitivas.

A rica história da Vila da Glória, mais precisamente da Colônia do Say, é pouco conhecida e reconhecida, infelizmente. Remanescente de colonizadores que permaneceram na região, caso de Aurélio Alves Ledoux buscaram resgatá-la. Incansável, Aurélio, foi um árduo batalhador. Não Apenas resgatou fatos marcantes da colonização, como também buscou divulga-los na imprensa local. Empenhou-se em organizar a comunidade, fundando a ASCOREDI - Associação Comunitária e Representativa do Distrito do Say. Entre as conquistas notáveis: o campus da UNIVILLE, com a implantação do curso de Biologia Marinha em Iperoba. E também um centro de educação ambiental. E Elias Correia, então. De ousado pescador a maricultor, enseja um novo momento para região. Orientado pela Epagri, idos de 1996, inicia o primeiro cultivo de marisco. Um sucesso. Naquele ano ocorreu o - I Encontro de Maricultura na Região. Daí surgiram os mapeamentos e demarcações. Neste trabalho destacaram-se os técnicos da Epagri: Francisco de Oliveira, Sérgio Winckler, Luiz Carlos Perin, Edir Tedesco e Luiz Carlos Miranda.


E no bojo a Quality Camarões do amigo Leandro. Superados percalços sanitários, contínua a produzir a plena carga. Exemplo de ousadia e competência. Adentrar na Vila da Glória - seja por ferryboat - Laranjeiras em São Francisco, ou pela Vigorelli em Joinville, ou por terra via Garuva sempre -, é uma viagem convidativa. Paisagem encantadora. Há os que preferem fazê-lo em embarcações. Marinas não faltam na região.Poder ter contribuído para este projeto, que imensa satisfação. E, tempo registre- se o trabalho realizado pelo então secretário de desenvolvimento regional Manoel Mendonça, o asfaltamento da via, embora a resistência de ambientalista bissextos. No futuro uma ponte ligando a Vigorelli a Gibraltar, sonho do então governador de Luiz Henrique da Silveira, certamente trará novo impulso à região. Predicados turísticos destacam as potencialidades da região: paisagem, história, gastronomia e gente acolhedora. A Elias Correia e Aurélio Alves Ledoux, pela ousadia e pioneirismo, nossos aplausos. 

Joinville, 18 de outubro, 2020



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