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CAMPO&CIDADE

Açaí Juçara

Da redação - 10/4/2023 - Onévio Zabot - 17h55min - Dia 30 de março último - município de Praia Grande – terra do balonismo -, participamos do Seminário Regional: Açaí juçara como alternativa na fruticultura. Evento marcante e representativo, técnicos e agricultores presentes. E empresários: Açaí Barbacuá – agroindústria processadora do fruto. Palmeira símbolo da Mata Atlântica, a juçara (Euterpe edulis Mart) se destaca como planta-chave. Imponente, entre outros atributos, sobressai pela beleza; daí ser utilizado no paisagismo. Estipe ereta, folhas pinadas. 

Verde intenso. A florescência atraí insetos polinizadores cobrindo de aroma a floresta. O fruto, sobretudo é apreciado pela fauna silvestre, sendo rico em nutrientes, energia e ácido ascórbico -popular vitamina C.Na região sul foi largamente explorada para produção de conserva, popular palmito. Essa sobre-exploração levou a espécie à exaustão. Hoje, consta na lista de ameaçadas de extinção. As empresas processadoras ou fecharam as portas ou migraram para a Amazônia a partir da década de 1970. Ressalte-se utilidades: a estipe era largamente empregada nas construções, estivados, ou como escoras; daí o termo juçara na língua nativa referir-se a y’çara (esteio, ripeira).

Na Amazônia, o primo da juçara (Euterpe oleracea) é largamente empregado na gastronomia regional. Suas propriedades nutritivas e medicinais foram descobertas pelos índios. Após as lutas e competições – caso da corrida com enormes toras nos ombros -, tomando açaí recuperavam-se rapidamente. O fato chamou a atenção de norte-americanos que circularam na região. Levado ao EEUU ganhou destaque mundial. 

Confirma a máxima: “Quem vai ao Pará, parou; quem bebe açaí, ficou”.E, entre frutos coletados na floresta e plantios comerciais, expande-se a produção na hileia amazônica. Em vista, o mercado asiático. E - Franquia nacional -, provocou uma onda sem precedentes no mercado de sucos e outras iguarias, caso de sorvetes e panificados. O que basicamente diferencia as espécies? Mais o caule: o açaizeiro perfilha, multicaule, portanto, a juçara, não; é monocaule. Com isso o açaizeiro oferece frutos praticamente o ano todo. A juçara concentra a produção entre abril e setembro, dependendo da altitude. 

Vai bem até 750 metros do nível do mar. Quanto ao fruto praticamente se equivalem, sendo, entretanto, a juçara mais rica em ácido ascórbico.Quanto ao aproveitamento do fruto da juçara em terras catarinenses, devemos a iniciativa a Dolores Gonçalves - paraense de Tucuruí -, que, em visita ao Parque Beto Carreiro ainda em Balneário Camboriú, observou uma palmeira carregada de frutos. Saboreia-os, e aprova. 

Ato contínuo, beneficia um lote. Constata ser de excelente qualidade, até melhor do que o amazônico; palavras dela, segundo Orival que cultiva tanto palmeira juçara quanto açaizeiros. Ah, uma curiosidade: a palavra açaí provém – iwasa’i – fruto que chora ou expele água. No evento ficou evidente a necessidade de adequar-se legislação atual, mesmo no cultivo em sistemas agroflorestais. Há necessidade de manejá-lo, pois após o décimo segundo ano atinge alturas que dificultam a coleta, ocorrendo também queda de produção. Portanto, há que se efetuar replantios. 

Regime sucessional proposto por Ademar Brancher, pesquisador da Epagri da Estação Experimental de Urussanga. E cá entre nós, hoje, a burocracia impera. Fruto da política de comando-controle e não de incentivo como preconiza o novo código florestal; maneja-lo com duplo propósito: palmito e fruto, é uma via-crúcis, pois o corte das palmeiras está atrelado a registro do plantio no IMA e no IBAMA (cadastro técnico federal). Sem esses tramites não se obtém a DOF, guia de transporte nos desbastes, técnica preconizada. E quem se atreve: haja papelada, mesmo sendo virtual. 

Inviável, portanto, neste momento, o cultivo para a agricultura familiar do ponto de vista do custo-benefício. Urge desatar esse nó, a menos que se queira manter o cultivo travado. Reiteramos: cultivar só para exploração do fruto - embora liberado -, não resolve o problema, pois pra manter os pomares produtivos há necessidade de manejá-los. Sistema sucessional. Aproveitamos a viagem para visitar o experimento implantado por Brancher na Estação de Urussanga. Brancher coletou sementes no estado todo. 

Coleção representativa, portanto, da flora catarina. E lá está o bosque: plena frutificação. Percebe-se que um cultivar nanico se destaca. Porte menor - palmeiras com até quatro cachos. Uma coisa é certa: urge retomar a pesquisa e ampliar intercâmbio com universidades. Aliás, nesse sentido, faça-se justiça ao professor Rick Muller da UFSC pelo pioneirismo quanto ao potencial do fruto. E também aos técnicos: Fábio Zambonim, Milton Ramos (Epagri) e Joana McFaden, cujas valiosas contribuições deram o ponta pé inicial. 

No evento chamou a atenção também e experiência levada a termo no município de Três Cachoeiras RS: inclusão do açaí na merenda escolar. Ótima aceitação. Sucesso total. E foram mais longe: utilizaram para fazer trabalhos escolares, incluindo produção de mudas e visitas a campo. A iniciativa -, pelo pioneirismo – foi premiada como destaque em inovação na merenda escolar. 

Certamente, a espécie carece de maior atenção, dada a potencialidade não apenas para a região litorânea, mas também para a bacia do Rio Uruguai e extremo oeste catarinense. Eis um senhor desafio: resgatá-la, preservá-la e promove-la enquanto palmeira chave da Mata Atlântica. E, sobretudo, como fonte de renda e proteção ambiental. E por que não a inserir no contexto de uma Indicação Geográfica (IG). Mãos à obra, portanto.

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