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CAMPO & CIDADE

Harri Lorenzi - Onévio Zabot

  • - Onévio Zabot - Engenheiro agrônomo e servidor de carreira da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) - Membro da Academia Joinvilense de Letras

Hansa Humboldt - atual Corupá -, porta singularidades.  A primeira, a denominação, singela homenagem ao botânico Alexander Von Humboldt que percorreu o Brasil coletando plantas e classificando-as. Trabalho de largo folego.  Reconhecimento mundial. Daí a justa homenagem. E mais tarde Corupá - de origem indígena -, depósitos de seixos - pedriscos encantonadas nas ribanceiras e remansos. Atribui-se a mudança a conflito mundial que deixou sequelas em terras brasileiras.  Polêmicas à parte - vivemos outros tempos -, e Corupá se destaca não só como centro produtor de banana - agora com indicação geográfica (IG) -, considerada a mais doce do Brasil. E almejam mais: que seja a mais doce do mundo. Sem dúvida, uma louvável iniciativa da associação dos bananicultores.

Mas, além da banana, Corupá sobressai como polo produtor de orquídeas e de plantas ornamentais. Santuário promissor, portanto. E a família Seidel - centenária -, é referência internacional. Adolfo Konder - governador de SC -, em visita a localidade (1927), a denominou de "Califórnia brasileira", em razão da abundância de pomares de laranja.
Eis, no entanto, que outro filho ilustre projeta novamente Hansa Humboldt mundo afora.   Harri Lorenzi - engenheiro agrônomo -, desponta como cientista e botânico emérito.  As obras publicadas:  identificação de flores e plantas ornamentais, árvores, palmeiras e frutíferas, de forma incisiva corporificam arcabouço sistemático, cuja importância sobressai sobremaneira. Providencial sob todos os aspectos.

As expedições empreendidas, a catalogação de espécies, a descrição clara nos textos, as esplêndidas fotografias, permitem fácil identificação, uniformizando topônimos - "apelidos" regionais. A vasta coleção de espécie - (maravilha...!)  -, está ao alcance de todos: jardinistas, paisagistas e aficionados pela natureza.
E mais. Recentemente lançou a obra: Plantas Alimentícias Não Convencionais do Brasil (PANCS, em parceria com o botânico Valdely Knupp. Identificam centenas de plantas comestíveis praticamente desconhecidas, mas com potencial de utilização na culinária. E (pasmem!) receitas preciosas permitem aproveitá-las.

Pelo conjunto da obra Harri Lorenzi, embora a sua simplicidade, situa-se entre os maiores botânicos brasileiros de todos os tempos. Que o digam os paisagistas.
Há, no entanto, um fato curioso sobre a trajetória de Harri narrada por Dejair Pereira - técnico da ACARESC (hoje Epagri) na região. Certa feita Dejair instalou uma lavoura demonstrativa, se não me engano de milho, na propriedade da família Lorenzi. Divisa entre Corupá e Jaraguá do Sul.  E, num dia de campo, na colheita, fez ampla explanação sobre a tecnologia aplicada e os resultados alcançados. Ao terminar o encontro, solicita para alguém se manifestar sobre o ensaio.

Todos se calam, menos um jovem que não só se manifesta, como o faz com extrema maestria. Em face do ocorrido Dejair o provoca: - Deves seguir nos estudos.  Indica o colégio agrícola de Araquari.  Harri vai além - forma-se em agronomia. Primeiro identifica plantas invasoras elaborando manuais e, em seguida, o passo seguinte - as ornamentais.
E por fim a pérola: o Jardim Botânico implantado em Nova Odessa - São Paulo. E o Instituto Plantarum. Ali, unem-se, conectam-se o botânico e o artista. Resultado: um ambiente mágico. Encantador.  

Ler e estudar os livros de Harri Lorenzi é marcar um encontro mágico com a flora brasileira - uma das mais ricas e diversificadas do mundo.
Harri acaba de receber na Inglaterra da conceituada - The Royal Horticultural Society o prêmio: Veitch Memorial Medal -, reconhecimento mundial pelo seu trabalho em prol da botânica. Primeiro brasileiro contemplado com tal honraria. Mais um motivo para nos orgulharmos deste ilustre filho de Corupá.

                                   
                                                                                                        Joinville, 17 de março, 2022


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