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CAMPO & CIDADE

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  • - Onévio Zabot - Engenheiro agrônomo e servidor de carreira da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) - Membro da Academia Joinvilense de Letras

OS AMIGOS DA BOA TERRA - Onévio Zabot

No último dia 29 de janeiro, o Brasil perdeu um ilustre cidadão: Herbert Bartz - "senhor plantio direto". Isso mesmo," o papa" do plantio direto. Plantio na palhada. Herbert Bartz, ao lado de Franke Dijkstra e Manoel Henrique Pereira, o popular Nonô revolucionaram o agro brasileiro. Herbert Bartz, natural de Rio do Sul, Santa Catarina, conhecido como "alemão cabeça dura" enfrentou as agruras da vida com destemor. Retornando à Europa ainda criança enfrentou os bombardeios da Segunda Guerra Mundial na cidade de Dresden, Alemanha. Sobreviveu. A família retorna para Rolândia no Paraná, fazenda Rhenânia.

Cedo Herbert percebe os danos causados pela erosão do solo. À noite, lanterna à mão, conferia o estrago. O solo erodindo, voçorocas abrindo-se. Sangria da terra.

A erosão laminar, em sulcos ou em voçorocas, segundo estudos da época, provocava perdas de 100 a 200 toneladas de terra por hectare ao ano. Ou seja, entre 10 e 20kg por metro quadrado dependendo da declividade terreno. Resultado: assoreamento de mananciais, turbidez e perda da camada fértil do solo. Uma tragédia, haja vista que para formar apenas um centímetro de solo a natureza leva cerca de 300 anos.

 Inconformado, Herbert busca de alternativas. Não êxita: dirige-se aos Estados Unidos. E, de lá, em 1972, introduz o sistema de plantio direto no Brasil. Conhecido por lá como No-Tillage ou No-Till. Importa uma plantadeira Allis-Charmers. É tido como maluco. A polícia Federal aprendeu toda a produção de soja.

Um detalhe, no entanto: Herbert Bartz era um idealista, não era técnico, nem político, nem pesquisador, mas possuía o essencial: faro de terra; não o bastante para o meio acadêmico de então. A pesquisa oficial resistia. Ora, quem era Herbert Bartz para questionar o sistema praticado. Arar e gradear ou sulcar o solo, práticas consagradas. Herdada da Europa, mas com uma diferença fundamental. Por lá era utilizada para revolver o solo após o inverno, aquecê-lo, dado o curto período de cultivo. Por aqui, nada a ver, pois era utilizado para controlar ervas invasoras. Mas complicava do resolvia, ao revólver as sementes de ervas invasoras, as propagava.


Herbert, o alemão de Rolândia, obstinado, resiste. Encontra respaldo em Franke Dijkstra de origem holandesa e Manoel Henrique Pereira, o popular Nonô, brasileiro da gema. Incansáveis, fundam os Clubes da Minhoca. Muda o cenário agrícola do norte do Paraná e nos Campos Gerais.

É célebre a tirada de Herbert Bartz: "Incrédulos desacreditavam o sistema, alegavam não permitir a descompactação do solo e enfatizavam que era preciso usar arados e grades... Saiu-se Herbert, dissuadindo-os com essa:

- "EU sei resolver o problema da compactação do solo, não sei o que fazer quando atinge o cérebro humano". Superadas as resistências, missão vitoriosa, em 1992 fundam os Clubes dos Amigos da Terra. Em 2018 abordando o tema, Wilhan Santin escreveu: O Brasil Possível. Na obra destaca a máxima: "A natureza não aceita propina".

Atuando no projeto de microbacias I - Conservação do Solo e da Água, do Banco Mundial -, orientado, entre outros, pelos Engenheiros Agrônomo: Claudino Monegat, Leandro Wildner e Alcides Molinari, tivemos o privilégio de comprovar a pertinência desta tecnologia. Tecnologia hoje consagrada e empregada em larga escala, indispensável ao moderno agro brasileiro, pujante sob todos os aspectos.

A esses três ases de ouro do plantio direito: Herbert Bartz, Franke Dijkstra, Manoel Henrique Pereira, a pátria deve um eterno reconhecimento. Verdadeiros Heróis nacionais.

Solo bem cuidado - sejamos realistas -, é sinal de boa safra, de abundância e de vida farta. E vida é tudo.

                                                     Joinville, 25 de fevereiro de 2021


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